terça-feira, março 11, 2014

TRAUMATISMO UCRANIANO II

Numa conversa telefónica este domingo com Merkel e Cameron, Putin deixou clara a sua posição sobre a península da Crimeia.

Passo a alinhar breves notas sobre o entendimento que tenho da Guerra da Crimeia. A Guerra que nunca será guerra:

1. O desmantelamento da União Soviética não eliminou  a desconfiança  cultural que os Russos sempre tiveram  em relação ao Ocidente nem, sobretudo, o medo  da Nato. Os Russos foram criados  a prepararem-se para o dia em que a Nato os invadisse.

2. E, por isso, entre a Pátria russa e o mundo ocidental ou ocidentalizado foi mantida uma faixa de terreno suficientemente larga para manter a Nato à distãncia. Foram, assim, criados  dois estados tampão, com governos-fantoches  patrocinados por Moscovo. A Ucrania a sul e a Bielorrússia a norte serviam de "zona desmilitarizada" ou de zona de conforto para os russos. Assim nos últimos 25/30 anos.

3. De repente, por razões que não vou agora abordar, a Ucrania decide ocidentalizar-se, abandonando o estatuto de Estado-tampão. Ou seja, a Ucrania com o apoio do Ocidente pode rapidamente aceder à UE e à Nato.

4. Ora bem, os Russos viram alterado o staus quo, o equilíbrio geo-estratégico que ia existindo e foram confrontados com a ameaça, para eles, de terem as tropas da Nato encostadas às suas fronteiras.

5. Por isso, os  Russos tinham que reagir. Para se proteger da alteração do satus quo. Repare-se que os Russos nada fizeram para aumentar o grau de ameaça contra o Ocidente. Eles é que, de repente se sentiram ameaçados pelo Ocidente. Devido a alterações que outros fizeram junto às suas fronteiras sem  lhes dizer "àgua vai".

6. A verdadeira questão para os Russos é salvaguardar que as tropas da Nato não entrem na Ucrania. E se o Ocidente não lhes  der essa garantia, provavelmente, os Russos farão avançar a sua fronteira na zona de Donetzk, não porque precisem desse território ucraniano para cultivar batatas, mas apenas para salvaguardar a distancia de segurança entre a sua fronteira original e as prováveis tropas da Nato. E esta será o única hipótese de invasão de terrritório ucraniano. Se bem que os Russos, se o quisessem ocupar, já teriam instalado forças no terrenos de uma dia para o outro.

7. Para já os Russos aproveitaram para clarificar a questão da Crimeia que, ao contrário do que por aí se anda a dizer, esteve sempre muito mais perto da Federação Russa do que da Ucrania, na qual foi  formalmente integrada há 60 anos, por mero efeito de uma bebedeira que o pessoal dirigente do Kremlin apanhou.

8. É ridículo argumentar com a falta de democraticidade do actual referendum na Crimeia para aderir à Federação Russa, quando há 60 anos a Crimeia foi anexada à Ucrania de um dia para o outro sem qualquer tipo de consulta popular ou às autoridades locais. Por mero efeito de doação. O Jerónimo lá do sítio disse assim para o Bernardino da época: "Oh  camarada Bernardino, o que é que a gente pode fazer para engraxar a Ucrania no seu aniversário ?". "Olhe, camarada Jerónimo, como a gente já matou à fome uns 10 milhões de ucranianos, mais uns 2 milhões à porrada nos Gulags, se calhar a gente dava-lhes a Crimeia que tem uns 2 milhões de habitantes e ficamos com a dívida praticamente paga." (para quem não conhece, chama-se a isto matemática comunista, onde no resultado final de uma conta aparece sempre o número  que apetece ou convém).  E foi com este amplo movimento histórico, social, politico, económico e jurídico que a Ucrania recebeu a Crimeia. Daí que seja ridículo que a UE e os EUA considerem a Crimeia "território ucraniano invadido". 

9. Existem ordens rigorosas  de Putin para que se evitem os disparos e a violencia. Putin vai resolver este problema através do direito internacional e as ameaças de sanções económicas e políticas por parte do ocidente terão sempre um efeito de boomerang. A Alemanha,. por exemplo, recebe da Rússia 35% do gas natural e 40 % do petroleo. De Portugal segue para a Russia pera rocha, calçado e vinho. E assim por todos os restantes países UE. Ademais, a Russia pode sempre abandonar os tratados  em matéria nuclear. Por isso, não alcanço as ameças que Obama e os europeus andam a fazer. É muito mais perigoso para o Ocidente que a Russia deixe de cumprir os tratados que demoraram décadas a conseguir. 

10. Com a anexação da Crimeia pela Federação Russa ninguém perde muito de especial. Apenas o orgulho dos ultra-nacionalistas ucranianos fica magoado. Mas para já esses tipos tomaram o poder ucraniano nas escadarias do parlamento, por isso têm tanta legitimidade como a dos guedelhudos do Ralis em 1974. Estão longe de ter mostrado em eleições livres a sua verdadeira representatividade.

11. E os Ucranianos em geral  é bom que percebam desde já que a UE é uma puta muito cara. Para se entrar no bordel europeu, a jóia em termos de independencia é milionária  e as quotas  logo se vê.

12.Nenhum soldado ocidental vai disparar um tiro para defender a honra de uma  noiva que não quer casar com o noivo escolhido pelos pais, mas antes com o outro, o façanhudo, com quem está farta de ir para a cama.