quarta-feira, abril 24, 2013

O MEU 25 DE ABRIL

Por razões maturadas e remoídas ao longo de muitas reflexões e tertúlias,  Abril significa para mim a Liberdade de Expressão.  O resto é ideologia sectária,  a maior parte das vezes invocada apenas para suportar o egoísmo de grupelhos  de interesses. Quem me conhece sabe que tudo me distingue politicamente  do Poeta Ary dos Santos. Excepto  na sua sede, superlativada pelo génio, de liberdade de expressão.  E, assim, faço questão de editar no aniversário da abrilada um poema de Ary dos Santos. Desde logo, pela genialidade da sua poesia. Mas também como afirmação do princípio da Liberdade de Expressão, dado ser certo e sabido que se fosse o Partido Comunista a mandar neste país eu nunca teria a liberdade de editar este blogue. 

Estrela da Tarde ( por Ary dos Santos)


Era a tarde mais longa de todas as tardes
que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas,
tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca,
tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste
na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos
no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos
ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste
o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite,
para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites
que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas
e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos
cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite
uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite
nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites
que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite
amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem,
vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura,
se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo
e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste
dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste
despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!