quinta-feira, julho 12, 2012

A GREVE DOS MÉDICOS



Esta é a prova de que os médicos, no fundo, se estão a borrifar para o SNS  em cuja defesa dizem ser intransigentes. Não querem misturar os enfermeiros "na luta pelo SNS", porque o que está em causa para os médicos é apenas o quanto levam para casa todos os meses. Resolvida essa questão, o problema deles fica ultrapassado. E quem vier atrás que apague a luz e feche a porta.

Gostaria de ter visto os médicos durante os 30 e tal anos do SNS a protestar contra as vigarices que eles sabiam ser cometidas no SNS. Mas como a vaca era grande e chegava para todos...

O Serviço Nacional da Saúde é a Parceria Público Privada mais antiga em Portugal.  Onde foram queimados rios de dinheiro. Nela os médicos puderam ser públicos quando convinha e ser privados quando lhes apetecia. A promiscuidade entre os estatutos era escandalosa. Era normal um médico estar a trabalhar no seu consultório no horário que lhe estava a ser pago - e bem pago - a título de banco ou de prevenção. Na privada qualquer médico é livre de ganhar tudo aquilo que possa. Mas na sua qualidade de Funcionário Público sempre foi escandaloso que ganhassem 4 ou 5 vezes mais do que qualquer outro licenciado também da Função Publica. É certo que o Médico exerce uma profissão de muito rigor e responsabilidade e que exige formação profissional  longa a actualizada. Mas quem olha para os rendimentos deles com proveniência na Função Pública e os ouve falar parece que só eles é que estudaram ou estudam, só eles é que trabalham e só eles é que. Até parece que os outros não estudaram ou estudam, não se actualizam ou não trabalham.

As carreiras médicas são essenciais à continuidade da formação dos jovens médicos. Sem carreiras que estabilizem os médicos mais velhos nos serviços hospitalares, não  existem equipas que assegurem a formação dos médicos mais novos.  E este é um problema muito sério para o nosso futuro. Mas  é só  a metade do problema  actual dos médicos. A outra metade é a questão salarial. E como, em valores médios,  os   5% do Socrates, mais os 15% dos subsídiosda Troika, mais os 10% de aumento de IRS  levaram a quebras de vencimento entre os 25 e os 30 %, o que está em causa na greve são estes cortes salariais. Os médicos foram os principais visados pela taxa mais alta de IRS.  Pois que eram eles quem tinha rendimentos mais elevados.  O desconforto é este. O resto é conversa. Em Portugal temos umas castas de Funcionários Públicos que se julgam intocáveis: os magistrados, os médicos, os pilotos da Tap, os controladores de tráfego aéreo e os maquinistas da CP. Quando se toca na carteira desta malta, aparecem logo manifestações e greves em defesa do "interesse público".


 


4 Comments:

Blogger Agnelo Figueiredo said...

Não deixas de ter razão mas terás de reconhecer que 1.800 euros para um especialista... é muito pouco.

02:15  
Blogger Agnelo Figueiredo said...

Não deixas de ter razão mas terás de reconhecer que 1.800 euros para um especialista... é muito pouco.

02:15  
Blogger carneiro said...

Para não falar já do Roque da Cunha, esse sindicalista que foi deputado 12 anos do PSD, que fez o internato fora de tempo e que se deixou enrolar com os sindicatos comunistas, porque o lugar de secretário de estado não foi para ele.

11:00  
Blogger carneiro said...

A questão fulcral é a das grelhas salariais.
O vencimento base sempre foi baixo. Ao nível dos outros licenciados da FP. E os sindicatos e a Ordem nunca se preocuparam com isso. Pois que o grosso do vencimento estava nas horas extra, onde chegava a acontecer a proporção de 3 para um, sendo o "um" o vencimento base e o "três" as horas extra e bancos. E os dindicatos adoravam os bancos de 24 horas a "pingar", se bem que toda a gente soubesse os revezamentos, aliás, naturais, durante o banco. Mas convinha receber 24 horas extraordinárias de cada vez. 3 ou 4 vezes por mês.

Mas em Santa Marta, por exemplo, os bancos já eram só de 12 horas, porque havendo excesso de cardiologistas, os colegas tinham que ratear entre todos, sob pena do bolo dos bancos não engrossar suficientemente o vencimento mensal. Ou seja, quando não havia, espontaneamente partilhavam. Mas não faziam greve em Santa Marta.

E durante muitos anos - ultimamente já não era assim - convinha receber a título de horas extra que fiscalmente era muito mais vantajoso, em especial na parte dos descontos obrigatórios.

Agora que as horas extra diminuiram drásticamente é que a malta se escandalizou com o vencimento base.

O meu ponto é que os médicos são dos licenciados mais especializados e merecem ganhar um pouco mais do que os outros licenciados. Mas em caso algum merecem a diferenciação que só foi possível num regime socialista, em abstracção de custos, e debaixo da chantagem constante dos sindicatos.



Mais grave do que os 1800 para os jovens especialistas, é os recém licenciados e finalistas não terem vaga para fazer a especialidade. Estão a emigrar para a Suiça onde a segunda língua nos hospitais é o português.

Na privada ganhemn o que puderem. Agora não podem contar com vencimentos milionários na FP. O escandalo teve que acabar. Da pior maneira para os mais jovens.

Mas isso é a questão essencial da nossa sociedade. O grande problema não é económico ou político. É geracional. é uma sociedade que organizou regras para ser sustentada pelas gerações que vêm a seguir.

11:41  

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