domingo, janeiro 23, 2011

GINETOS

São oito e picos da manhã e a RTPMemória passa um documentário saudosista das clandestinidades comunistas ouvindo um rol de gente, com especial enfase no Comité Central do PCPortuguês, sobre a figura do Escritor Joaquim Soeiro Pereira Gomes.
Ontem, logo no ínício da transmissão do jogo Benfica-Nacional, o narrador da TVI deu a primeiríssima informação importante relativa ao jogo: se o Benfica ganhar, consegue sete vitórias seguidas, melhor que o FCPorto. Reduziu, assim, ao mínimo denominador a razão daquele jogo: obter-se um resultado melhor que outra equipa que nem jogava.
Ora bem, eu que não sou benfiquista nem da esquerda soviética, senti sempre esta tendenciosidade do jornalismo português. A nossa comunicação social é benfiquista, é de esquerda e acha que assim deve ser. E escandaliza-se quando é criticada.
Os nossos jornalistas nunca conseguiram separar a sua opinião ou o seu desejo íntimo do facto jornalístico que reportam. E se hoje caminhamos para os 40 anos de socialismo, tal se deve à intoxicação que o jornalismo português verteu na nossa sociedade. Em especial mediante a televisão.
O jornalismo português, e os seus tiques de esquerda, assistiram sem criticar, ao desmantelamento da produção nacional, à instituição do sistema subsídio-dependente, à ditadura do Fisco. Noticiaram e interferiram com a intriga política e o teatro parlamentar, sem nunca perceber a relação entre a decisão política e a vida concreta dos cidadãos. Aplaudiram tudo o que se fez exactamente ao contrário do que acontecia no Antigo Regime, não porque tivessem recolhido opinião de certo ou errado, mas porque bastava ser o contrário para passar a estar certo.
Num dia em que se pretende exaltar o regime pluripartidário, eis o elogio romantico dos valores de um Partido Político - com um candidato próprio a ir hoje às urnas.
Quem leu os Esteiros e a Engrenagem e quem viveu, de uma forma ou de outra, os factos descritos percebe que, hoje, Soeiro seria um Escritor "do contra". Inevitavelmente.
Contra este regime. O actual. O implantado em Abril com tiques de organização social e económica de tipo socialista. Não pelas razões teóricas do Comunismo Internacionalista que já morreu com estardalhaço há mais de 20 anos, menos em Cuba, na Coreia do Norte e em Portugal. Mas pelas razões que constam nos romances. Basta ler para se perceber a actualidade de miséria e de exploração do mais fraco.