quinta-feira, abril 30, 2009

FUN


NAP...OLITANA

Este blogue tem um amigo intelectual que não gosta que se editem postes machistas com aproveitamento da figura feminina. Pelo menos é o que consta...

PROMOVIDO




Consta que o homem foi promovido a comandante de pelotão feminino. Agora só anda de carro. Já não quer nada com os pobrezinhos que dão ao pedal...


1º DE MAIO

Morte que mataste Lira,
Morte que mataste Lira,
Morte que mataste Lira,
Mata-me a mim, que sou teu!
Morte que mataste lira
Mata-me a mim que sou teu
Mata-me com os mesmos ferros
com que a lira morreu

A lira por ser ingrata
Tiranicamente morreu
A morte a mim não me mata
Firme e constante sou eu
Veio um pastor lá da serra
À minha porta bateu
Veio me dar por notícia
Que a minha lira morreu

(Adriano Correia de Oliveira)

A lembrar o tempo em que o 1º de Maio era um exercício de liberdade também nas cantigas. Hoje é mais um dia especial para se andar de bicicleta.

CONTO PROLETÁRIO

"Sou orfão de Pai e Mãe desde os cinco anos de idade. Recolheu-me uma vizinha, de preto, velha de inquantificável idade, que vivia num prédio a ameaçar derrocada pela trepidação da recolha do lixo em dias alternados. Aliás, a viela era tão desprezível que só a carreta do lixo condescendia em resvalar no empedrado puído da calçada. Comíamos, cozidas na àgua aproveitada da boca de incêndio, as cascas de batata recolhidas nas traseiras de uma pensão-residencial de uma estrela, A Primorosa de Alpalhão, que anunciava os seus serviços com a frase publicitária "casal que venha à cidade, águas correntes, quentes e frias, TV, ventoinha, bidé francês, massagens libanesas e outras". Aliás, muito adiantada para a época. Aquelas cascas de batata tinham grande procura e aceitação na nossa viela, já que a cozinheira, também parteira clandestina, para além de uma surpreendente capacidade de resistência etílica e de uma faca romba, tinha problemas de visão, produzindo cascas bem grossas. Problemas de visão, de resto, que a conduziram à prisão, pois que convencida de estar a ajudar ao parto de uma promíscua freira da Congregação das Irmãs do Santo Gemido, tentou cortar o cordão umbilical em causa e só os gritos horrendos do Senhor Cónego Almerindo - ausente da Secretaria da Sé em parte incerta havia dez dias, pois que acolhido à Lola e à Lila, duas espanholas que encetaram no nosso país o ciclo dos shows lésbicos ao vivo -, percebeu que afinal estava a sarrafar o sagrado apêndice do venerando presbítero. Tentou a parteira argumentar com o MMº Juiz, transmontano de gema, que a culpa pela confusão fora toda do Senhor Cónego que, sem dizer água vai, se colocara em posição de parturiente, de batina arregaçada à cintura e de partes pudengas à mostra, sem que volume ou dimensão permitissem evitar o equívoco. Mas o Senhor Cónego, instado, esclareceu os causídicos, exemplificando, que a referida posição se destinava a propiciar um número em que a Lola se especializara. O reboliço na sala foi grande e o escândalo dias depois ainda maior, pois o MMº Juiz não resistiu à sugestão transformada em cisma e acabou por fugir para Africa com a Lola, da qual veio a ter seis filhos varões, dois deles mulatos.
Quem se tramou foi a parteira que apanhou dois anos de clausura pelo crime de ofensas corporais na alínea da privação de orgão importante. E nós próprios que perdemos tão suculentas casquinhas. Salvou-se o Cónego Almerindo que ingressou, apesar de cerceado rente de tentações, no Instituto das Religiosas da Santa Preterição onde acabou a sua carreira monástica como Madre Superiora, depois de vários anos como responsável pelas confecções e costura da congregação.

A época da Primavera era boa. No sazonal charco que se formava nas fundações do novo Centro de Saúde, suspenso na construção por falência do construtor havia oito anos, caçávamos rãs que fritávamos na manteiga que sobrava do tabuleiro do pequeno almoço de um abastado proprietário alentejano que mensalmente visitava a Primorosa, fechando-se no quarto - o número 12 - por três dias consecutivos com um adido de embaixada do Ministério dos Negócios Estrangeiros de apelido Roto, e que nós tratávamos carinhosamente por Adelina. Acompanhava com cascas - as tais - salteadas. Pelos sete, oito anos de idade aprendi a caçar gatos com um cordel plástico gordurento de nafta que salvei à maré, empatado num anzol que feliz e ocasionalmente foi descoberto devido ao engasganço da velha num jantar de arroz de carcaça e miudezas de corvina que sobrara dos filetes da Primorosa. Logo à primeira garfada a velha entupiu, os olhos explodiram, as lágrimas transbordaram, as faces escaldaram. Choveram o que tens ?, palmadas nas costas, copos de água, benzeduras apressadas, rezas enigmáticas, até houve quem, à falta de método mais eficaz e em completo desespero, tivesse coçado o cú num misticismo nunca cabalmente explicado ou antes visto. O pânico era geral. Mas a velha meteu a mão à goela e, num arranque, trouxe na ponta dos dedos o famigerado anzol ainda com o pedaço de sardinha que tentara a corvina. Mas esse jantar ficou verdadeiramente célebre porque a velha, sempre tão calada e taciturna - fazia-se passar por muda por causa da esmola e nunca falava para não perder o jeito -, não se conteve e exclamou: "Foda-se, que me ia engasgando".
Foi com as peles pretas dos felinos, meticulosa e pacientemente raspadas e curtidas, que cosi o meu primeiro par de cuecas. Eram um bocadinho ásperas, mas eram negras - e o preto é a cor da sedução. Com o andar do tempo e com o uso, a confecção criou um muito ligeiro, vago, distante, quase-imperceptível odor almiscarado, o que tanto bastou para que a vizinhança, implacável, me tivesse apelidado de Almíscar. Mais tarde quando assentei praça, o sargento-mor de cavalaria que era um velho frequentador da "Primorosa" - onde se deslocava diariamente para fazer a contabilidade à mulher -, reconheceu-me, condoeu-se, assumiu-se como meu protector, e adaptou para Amílcar que, ainda hoje, é o nome com que assino."
(continua)

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PRONTO...'TÁ BEM...


Vá lá, JM, não chores mais. Hoje não vou dizer nada sobre a agremiação. Só te vou dar do que gostas: gajas em vermelho, poesia e pintura. Que petiscos e bebiscos só pessoalmente.

TROVA DO VENTO QUE PASSA

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

(...)
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

(...)
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

(...)
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

(...)
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre

PRUDÊNCIO


quarta-feira, abril 29, 2009

CONFISSÃO


Assume-se que este é mesmo um blog de gajos. Pede-se desculpa às amigas, mas a vida é mesmo assim. Piores são aqueles que sendo machistas, não o assumem. Porém, o nosso machismo não passa desta fanfarronice pré-senil de apreciar rabos de gajas para cuja deglutição já não temos dentes ou oportunidade.
P.S. Reparou-se certamente que hoje nem toquei na agremiação. Estão a preparar a próxima época e não temos o direito de perturbar desde já o sonho que se renova em cada final de época perdida. É deixar sonhar.

PEDRO HOMEM DE MELLO

Não choreis nunca os mortos esquecidos
Na funda escuridão das sepulturas.
Deixai crescer, à solta, as ervas duras
Sobre os seus corpos vãos adormecidos.

E quando, à tarde, o Sol, entre brasidos,
Agonizar... guardai, longe, as doçuras
Das vossas orações, calmas e puras,
Para os que vivem, nudos e vencidos.

Lembrai-vos dos aflitos, dos cativos,
Da multidão sem fim dos que são vivos,
Dos tristes que não podem esquecer.

E, ao meditar, então, na paz da Morte,
Vereis, talvez, como é suave a sorte
Daqueles que deixaram de sofrer.

( Pedro Homem de Mello, in "Caravela ao Mar")

PRUDENCIO


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terça-feira, abril 28, 2009

PATROCÍNIOS


Segundo informa o JM, a Vitalis e a Super Bock são marcas que visam a internacionalização mediante publicidade na Liga dos Campeões.

QUIZ


Pergunta: E como se chama este snack ?
Resposta: É uma 'sande' de 'preseunto'!

ATCHIM....


HINO NACIONAL

Povo que lavas no rio
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão
Há-de haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não
Fui ter à mesa redonda
Beber em malga que esconda
Um beijo de mão em mão
Era o vinho que me deste
Água pura em fruto agreste
Mas a tua vida não
Aromas de urze e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição
Povo, povo eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso
Mas a tua vida não.

(Pedro Homem de Mello)

segunda-feira, abril 27, 2009

JOSÉ CARLOS PRUDÊNCIO


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OS ARBITROS DA TELMA


Nos Jogos Olímpicos invocou que foi eliminada por causa do árbitro. A semana passada ganhou o título de campeã europeia na sequência de um empate aos pontos, desempatado pela arbitragem.
Perde e ganha ao sabor da arbitragem. Nunca perde ou ganha por ser melhor ou pior que as adversárias. O árbitro é que determina...
Ora deixa-me cá adivinhar por que clube está ela inscrita.

25 DE ABRIL SEMPRE

Fotografia Oficial Autorizada pelo Ministério da Propaganda e Controlo da Comunicação Social de Sua Excelência o Senhor Presidente do Conselho de Ministros, Senhor Engº com Pós-Graduação José Socrates, a ser removido da parede de um organismo público por um dos militares revoltosos.

FAIR-PLAY

domingo, abril 26, 2009

BTT NO DESERTO


PEGÕES E BONSAIS

Hoje juntei-me aos Ruulaa Sul na estrada. Iam para Pegões. O que é que isso tem a ver com o Bonsai ? Nada. Mas em Pegões podiam abrir uma loja de Bonsais e depois este post já fazia sentido.

sexta-feira, abril 24, 2009

PÁTRIA

(...)
Mais do que os livros que lemos,
Mais que os amigos que temos,
Mais até que a mocidade,
A Pátria, realidade,
Vive em nós, porque vivemos.

Pedro Homem de Mello, in "Eu Hei-de Voltar um Dia"

EDITORIAL 25 DE ABRIL

No passado sábado, botei discurso num jantar de 'velhas glórias'. Fiz referência ao 25 de Abril e à Liberdade. Em reflexo condicionado, recebi três recados (ou reparos ou o que se queira chamar) de pessoas diferentes sobre uma minha hipotética viragem à 'esquerda'. Ora, convém esclarecer o seguinte:
No Portugal da III Republica, a ciência política tem sido a maior das trapalhadas, pois nunca conseguiu estabelecer na mente do cidadão comum as diferenças essenciais entre "esquerda" e "direita". Não vou obviamente meter-me nessa tarefa. Até porque para lá de clarificar conceitos, ainda tinha que desfazer as confusões.
Reduzindo os conceitos à sua essência, tenho para mim que uma postura cultural de "direita" privilegia a Liberdade, enquanto uma postura de "esquerda" valoriza a Igualdade. A primeira sobrevaloriza a Liberdade individual, enquanto a segunda tudo subordina à tendente Igualdade entre os cidadãos.
A Liberdade individual tem sido o valor essencial do meu percurso sócio-cultural. E também profissional e político. Até porque profissionalmente só posso actuar em contra-poder, só posso exercer o meu magistério no confronto total com o Estado e com as prorrogativas de limitação da Liberdade (até física) do Cidadão.
Por outro lado, vai sendo cada vez mais pacífico que a grande - diria a única - conquista significativa do 25 de Abril foi a Liberdade. Porque as demais assim classificadas não passaram da incipiência ou foram sustentadas transitoriamente a crédito. E foram caindo uma a uma.
Por isso, me identifico com a Liberdade que o 25 de Abril representa. É que a Liberdade é um conceito essencial da "direita". A Igualdade, normalização ou estandardização e os colectivismos, em especial, os culturais que estabelecem o "politicamente correcto", é que são conceitos típicos da "esquerda".
Esta estrutura essencial nada tem a ver - ou muito raramente tem - com as forças partidárias que, no seio de cada uma, fazem surgir afirmações de todo surpreendentes. Por exemplo, o CDS-PP a defender a economia subsidiada por fundos públicos e a aceitar a nacionalização dum banco, é um contra-senso doutrinário. Do mesmo modo, que o PCP a saudar a Liberdade é uma contradição nos termos. A única liberdade que interessa ao PCP é a liberdade-táctica para atingir o poder; a partir daí a coisa vai até aos Gulags, como é histórico. Por seu lado, os partidos "da governação" misturam tudo num caldo caótico, onde apenas se identifica como linha condutora a tentativa de chegar ao poder e a sua manutenção por todos os meios possíveis. Coisas como "socialismo em liberdade" é um contra-senso inultrapassável. Os conceitos anulam-se reciprocamente. E a afirmação dum partido "popular democrático" traz-me à memória a Coreia do Norte. Mas tem sido essa confusão doutrinária que nos tem governado. Não admira que o resultado seja o actual.
O 25 de Abril que amanhã completa 35 anos significa Liberdade. Em especial a Liberdade de eu poder escrever estas coisas sem que a polícia me apareça à porta para me levar preso. E essa conquista tem que ser por mim valorizada em qualquer circunstância.
As demais "conquistas de Abril" - assim definidas pelo "politicamente correcto" - foram um equívoco. Muitas vezes impulsionado pela ignorância, em especial dos jornalistas que tinham a obrigação de apontar a nudeza do rei. Aliás, como as pessoas agora estão a sentir de forma tão dolorosa que já não dá para disfarçar.
Por isso, assumindo-me culturalmente como um Homem de Direita, agradeço a Liberdade que o 25 de Abril trouxe a esta maltratada Pátria. Porque a falta de Liberdade no Estado Novo, não era uma prática de "direita". Era uma prática de "esquerda".
Aos intelectuais que por aqui passam, saliento que não elaborei um texto doutrinário, nem tive pretensões de lançar teses. Antes tive o cuidado de escrever simples para esclarecer em especial alguns equívocos que um discurso num jantar de "velhas glórias" terá causado a algumas pessoas no Bombarral.
Por isso - e porque a Liberdade não se celebra, vive-se -, amanhã vou aproveitar a Liberdade do feriado com os meus filhos. Embora com o coração apertado com o futuro miserável que eles vão ter a pagar a factura das "conquistas de abril".

JOSÉ CARLOS PRUDÊNCIO


Com Votos de Bom Fim de Semana.

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quinta-feira, abril 23, 2009

DIVULGAÇÃO

Como ainda não completei 300 Km com a bernarda, mal sei meter mudanças. É que com a de estrada a coisa funciona muito diferente. Além de que não consegui substituir os pedais por causa do aperto que o Chico Portugal deu aos actuais. Ou seja, desta vez vou mandar às urtigas o meu internacionalmente conhecido macho-man-nismo e vou fazer o percurso das Senhoras. A primeira vez que vou à Arrábida é melhor não me meter com os gajos que fazem aquilo há 20 anos...
O Torpedro e o No-Flats - para lá da restante equipa Ruulaaa Sul - é que eram capazes de ser boas companhias para o evento. Quer-se dizer...boas companhias para o almoço. Que conforme acontecia com a malta de estrada com mais andamento, eu só os via à partida e depois no almoço...
Mas o primeiro passo da inteligência é detectar as limitações e lidar com elas em conformidade. E esta coisa de um gajo se dedicar ao BTT aos cinquenta anos de idade exige cautelas e caldos de galinha especiais.

PROVA DE ESFORÇO


"(...) Foi recebido por uma médica novita, com aquela idade em que tudo é bonito, fresco e colocado em seu sítio, que lhe pediu com amabilidade que se despisse, se faz favor, da cintura para cima. Em tronco-nú, encolheu ligeiramente o estomago, disfarçando o inoportuno pneu que se formara sem prévio aviso havia dois anos e que teimava em se evidenciar nas situações menos convenientes. Ainda lhe apeteceu comprimir mais o ventre, para melhor realçar os peitorais, mas prudentemente lembrou-se daquele vez na praia em que se encolhera de tal modo, perante a boazona sueca, que lhe faltara o ar. Ainda por cima, a estúpida da nórdica, em vez de passar admiradora, babada e esfaimada daquele magnífico, mas inacessível, exemplar de homem peitudo, resolvera perguntar pelas horas.
Ainda ia no half, quando o pneu descontraiu; no past já atingira o tamanho normal; ao eleven compensara elasticamente a anterior contracção e explodira numa proeminente barrigaça mesmo em frente do exíguo biquini sem relógio. Que humilhação. Desta vez, António foi comedido não exagerando na contracção. A jovem médica ao aplicar-lhe os sensores auto-aderentes comentou que peito cabeludo. António fingiu não ter ouvido, mas em retribuição passou a olhar de soslaio pelas ancas da miúda. Subiu para a passadeira rolante e começou a caminhar.
A cada três minutos a velocidade aumentava e a passadeira inclinava alguns graus. António, exausto, aumentava o ritmo da passada, só não desistindo por se lembrar que tinha um peito cabeludo que o impedia de renunciar tão cedo à máscula exibição. A cada mudança de ritmo, as pernas doíam, o peito estoirava. Decorridos mais três minutos a médica novita perguntou se queria parar. António, valente, respondeu que ainda não. Mas teve que trotar dada a velocidade do tapete. A médica novita elogiou isso é que é capacidade de esforo. E António apesar do cansaço que lhe comprimia o peito, das lancinantes dores que lhe trespassavam os músculos, mesmo no limiar do colapso, ainda espremeu mais algumas energias do seu ego. Tinha que aguentar. Sobretudo porque tinha um peito cabeludo e muita capacidade de esforço. Completamente estoirado, quase a deixar-se atropelar pela passadeira, mas não desistia. Aguentava. Tinha que aguentar. O seu peito era cabeludo. E tinha muita capacidade de esforço. E desesperadamente aguentava.
Mas a velocidade cada vez era maior e o raio da passadeira estava quase na vertical. Que se lixe o peito cabeludo, mais a capacidade de esforço, mais as gajas novas, mais-a-pata-que-a-lambeu. Não aguentava nem mais um centímetro. Num derradeiro assomo de masculinidade ainda conseguiu dar um ar controlado à voz pedindo para parar. Ofegava como um galgo e transpirava como um cavalo. Limpou-se sumariamente a uma toalha e deitou-se na marquesa, para as medição da recuperação do esforço. Ao fim de um quarto de hora, a médica novita, com tudo bonito, fresco e colocado em seu sítio, começou a arrancar os sensores. Espero não o magoar, avisou com gentileza, provavelmente vou-lhe arrancar pelos; o meu marido também tem assim cabelos no peito. Ah, grande cabra, pensou António, já podias ter dito que tinhas marido, escusavas de me ter obrigado a apanhar uma suadela destas."

Diálogos Épicos no Café Veneza

"O Jorge Braga era um comunista típico. Proeminente odor corporal e poros extra dimensionados, cabelo revolto e barbicha à Lenine, sentava-se, de perna traçada, sem gravata, a fumar e a ler a Seara Nova, num canto da esplanada do Café Veneza. A farta camisola de alças a ver-se por debaixo da camisa branca. Indiferente à PIDE e ao mundo.
Já o Manel Celestino, mais velho, era um latifundiário clássico à moda do Oeste, de bengala e chapéu de aba larga, sem nenhum conhecimento de política, mas zeloso defensor da moral e dos bons costumes, que deixava sempre a Esposa em casa ou na igreja, e se dedicava sobretudo a censurar tudo o que saísse dos seus parâmetros restritos de conduta, indumentária e pilosidade facial. Exalava uma fragrância diferente, mais vínica.
Aos olhos do Manel Celestino, a barba revolucionária do Jorge Braga era o último grito da loucura subversiva. Um dia não se conteve. Quando o Braga se levantou e pagou o café para se ir embora, o Manel Celestino atirou-lhe:
- 'estaparta!... P'a chibo só te falta os cornos!...
Responde o Braga, na sua passada indolente e sem sequer virar a cabeça:
-E a si só lhe falta a barba...
Apesar de ninguém ir muito à bola com o autor, a réplica foi saudada por uma estrondosa gargalhada. No meio da nuvem de fumo do cigarro, o Braga deve ter ficado surpreendido. Até porque não estava a ser espirituoso..."
Nota: Surgiu este texto anónimo na caixa de comentários já há alguns dias. Guardei-o para lhe dar mais dignidade nas vésperas da celebração da Liberdade. Ao respectivo autor, obrigado.

NÓS NÃO TEMOS CULPA...

Aquilo que deveria ser o segredo do bom negócio, já anda pelos jornais - "CONHEÇA TODA A GESTÃO DO BENFICA 2009/2010" - . A partir do momento que conste a intenção de venda do passe de um jogador, obviamente que o valor baixa. É por isso que há um ano, na novela-Quaresma, a Sad do FCP afirmava que a cláusula de rescisão teria de ser de 30 milhões, e que não se vendia abaixo desse valor. Nenhum de nós acreditava - nem a SAD, julgo eu -, até porque o jogador se andava a apagar nas exibições e o mercado já estava em recessão. Mas quem vendia, tinha que manter o preço o mais alto possível para estabelecer o patamar da negociação. Não é preciso um curso superior. Basta passar por uma rural feira de gado na Malveira ou em Vimioso ou por uma urbana feira de ciganos de Alverca ou do Relógio, para se perceber que é assim que se negoceia.
Porém recordo-me da chacota com que o jornalismo benfiquista e os adeptos benfiquistas em geral se referiam à venda do Quaresma por uns miseráveis 18 milhões. Até se dizia que Pinto da Costa estava a perder faculdades, que já não era o homem de negócios que antes tinha sido. Confesso que já não me lembro exactamente do preço de venda do Quaresma. Mas mesmo que fosse apenas por 10 milhões - o que para os padrões habituais do FCP seria um negócio "fraco" -, mesmo assim, seria melhor do que qualquer negócio que a SAD do Sr. Vieira tenha feito.
Mas é esta dupla realidade - a relativização dos êxitos (também negociais) portistas e a publicidade enaltecida da vida interna do Benfica (para garantir a reeleição) - que contribui em muito para a alegria de uns e para a frustração desportiva doutros.
Na parte que me toca, ainda bem que o Record existe. Não venham é com teorias da conspiração para justificar coisas que são óbvias a inteligências medianas, como é a minha.

JOSÉ CARLOS PRUDÊNCIO


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quarta-feira, abril 22, 2009

CONTRIBUTOS


"Em política cada um pedala a sua própria bicicleta." - Este foi o único contributo conhecido do Primeiro-Ministro para a causa ecológica e verde do ciclismo.

Pelo nosso lado, somos mais assertivos (como é agora moda dizer-se) na busca da sanidade mental da malta, lavando-lhe os olhitos com produto biológico, ecológico e saudável.
O que é que uma coisa tem a ver com a outra ? Nada, claro. Este é um post da treta - "de virar tripa", como diz o Pulanito -, mas não podia deixar de editar uma coisa destas.

(dedicado a um benfiquista que anda convencido que sou sportinguista)

OPACO

"António sentia-se fraco, lívido, com as mãos húmidas e frias. Estava em jejum e passara toda a noite acordado a caminho da sanita. Tinha sido a preparação para o exame que o deixara naquele estado de prostração sub-nutrida. Maldito purgante que lhe desfizera as entranhas em água suja. Ainda sentia no bigode o cheiro nauseabundo do rícino misturado com fragância de baunilha, utilizada para disfarar o pestilento sabor no momento da ingestão do preparado. Por mais que tivesse lavado o bigode com sabonete, com pasta de dentes, com sabão azul e branco, até com shampoo anti-caspa e amaciador, o fedor mantivera-se. No bigode, mesmo por debaixo do nariz. Ignorar o pivete naquelas circunstâncias era como tentar dormir de olhos abertos.De manhãzinha ainda tivera que aplicar um clister de bisnaga, numa derradeira lavagem desajeitada que o molhara pelas pernas abaixo. Aliás, completamente inconsequente pois que o rícino já tudo havia exaurido. Enfim, mais lavado por dentro do que por fora, lá compareceu debilitado e enojado. Esperava encontrar o Dr. Avelar, o imagiologista residente, que já conhecia das reuniões do Conselho de Administração da Clínica. Mas surgiu-lhe pela frente uma enfermeira. Ou antes, uma enfermeiraça. Metro e oitenta de altura, ombros de halterofilista, braços de estivador, peitos abundantes a esgarçar os botões à bata, andar compacto mas elástico, cabeleira loura, boca e nariz severos, olhos azuis acinzentados, frios, metálicos e impessoais. Enfim, uma autêntica guarda nazi de um campo de concentração. Ou uma valquíria. Pelo menos nas imagens que hollywood incutia de tais personagens. Dispa-se completamente e vista esta bata, foi a ordem proferida em tom que eliminava qualquer hipótese de resistência. António obedeceu, meticuloso no pendurar da roupa, mas duvidoso se deveria também tirar as meias. Optou por as manter e vestiu a bata pelo joelho com a abertura e atilhos para a frente, cruzando as abas com as mãos a garantir a sua privacidade dianteira.A abertura é para trás, ouviu em tom de crítica. António corrigiu, humilde, culpabilizando-se por não ter discorrido tal evidência, mas sentindo-se ridículo e inferiorizado com a devassa do seu pudor na certeza de não controlar suficientemente a cobertura do traseiro. Bonito serviço, ainda por cima tenho que andar com o cú à mostra, começou António a irritar-se interiormente. Deite-se de lado na marquesa, dobre e junte os joelhos. António mansamente cumpriu. Respire fundo. Um súbito e aspirado ai escapou dos lábios do paciente. Percebeu que fora uma sonda quando um tubo foi ligado a um recipiente com uma massa branca, parecida com gesso. Viu o recipiente a vazar mas, ao contrário do esperado, não se sentiu a encher. Finalmente apareceu o Dr. Avelar. Bom dia, então, estamos confortáveis ? O médico tentou ser simpático no plural utilizado por médicos e educadoras de infância. Oh Dr., não me lixe. O meu amigo deve estar. Agora se eu soubesse que era para isto não me apanhava cá. Como quer que esteja confortável com um tubo enfiado no rabo... Respondeu António malcriadamente, exasperado com a noite insone e mal-cheirosa e receoso do futuro imediato face aos contornos que a situação estava a assumir.A valquíria inclinou a maca para um lado, para o outro, para a frente, para trás, enquanto substituía chapas que introduzia numa ranhura lateral do chassis da marquesa na zona do abdómen. Agora segure o tubo e não se assuste que é só ar. António segurou o tubo mesmo junto ao último reduto da sua masculinidade daquele modo posta em causa, garantindo que não se desenfiasse. Sentiu uma efervescência gasosa a borbulhar incomodamente revolvendo-lhe todos os meandros das entranhas. Mais umas chapas foram batidas. A valquíria tirou-lhe a sonda. Mas, ao contrário da esperada sensação de alívio, António sentiu uma terrível premência em aliviar os comprimidos gases. Apressou-se para o cabide da roupa para se vestir o mais rápido que pudesse. Mas a valquíria interrompeu o gesto. Espere cinco minutos, para ver se é preciso repetir alguma chapa. António pensou que ia morrer. Como poderia aguentar mais cinco minutos com aquele atroz sofrimento atrás, sentindo que a cada mexer de dedo, a cada movimento respiratório, a cada piscar de pálpebra, poderia explodir na mais humilhante e vergonhosa manifestação de imprudência social ? Concentrou-se num parafuso oxidado da marquesa, tentando abstrair de tudo o mais.Foram os cinco minutos mais longos da sua vida. Afinal, ainda teve que repetir duas chapas. Nessa altura já António transpirava copiosamente murmurando entre dentes, mas de forma inteligível - o que que isso lhe interessava naquela fase de desespero - o que pensava da medicina, dos médicos, das enfermeiras e de todos os algozes encapuzados que marcaram a ferro e fogo as páginas mais tenebrosas da história da humanidade. Finalmente foi-lhe autorizado vestir. Surpreendentemente, vestiu-se com relativas facilidade e rapidez. Só quando se dobrou para atacar os sapatos, percebeu que não aguentaria muito mais. Foi um momento épico. António naquele instante ultrapassou todas as fronteiras do domínio do corpo pelo espírito. Nunca até aquele momento outro homem, vivo ou morto, lograra vergar os sentidos ao poder absoluto da mente face a circunstâncias que ultrapassaram por larga margem os limites do humanamente suportável. Finalmente de roupa composta pronto para se acudir a uma casa-de-banho, verificou que estava sózinho na sala. Agora que mais falta fazia para prestar a preciosa informação é que a cabra da valquíria desaparecera. Raios-a-abrasassem. Abriu a porta em desespero e acedeu ao corredor. Deparou com um ser vivo - pessoa ou animal, não teve tempo de distinguir - que perante o seu ar inadiável nem necessitou que lhe fosse feita a pergunta. De imediato apontou uma porta a cerca de cinco metros. António pensou estugar o passo, mas compreendeu o risco. No podia alargar as pernas para não aliviar a pressão retentiva. Sentindo-se ridículo, arrastou o mais suavemente que conseguiu os sapatos por aqueles intermináveis 5 metros, movimentando as pernas com os joelhos colados, rezando para que não estivesse ocupada. Estava livre. Ufe. Sentou-se, mas à primeira investida equacionou a estanquicidade sonora da porta. Tanta gente a passar pelo corredor. E se o ouvissem ? Accionou o fluxómetro para que a enxurrada se sobrepusesse ao fragor, típico de uma alvorada festiva em arraial de aldeia. Nem assim confiou no isolamento da porta. E desatou num sapateado desenfreado, mais próprio de um ribatejano fandango. Irra, clisteres opacos nunca mais.
À saída encontrou o Dr. Avelar. Adeus, Avelar, espero que estejas satisfeito. Amanhã venho buscar o resultado. O Dr. Avelar num ligeiro franzir de sobrolho estranhou o tuteamento. Depois da intimidade por que passámos, com certeza não queres que te continue a tratar por você, vingou-se António sarcástico. E virou-lhe as costas a caminho dum pequeno-almoço. Daqueles com dois croissants com creme, dois quartos de leite gordo, um galão de máquina e uma torrada com pouca manteiga por causa do colesterol. E uma bica de café, para pôr a moral em pé."
(Nota: este texto não foi elaborado, nem por um sportinguista, nem para atingir o Benfica)

terça-feira, abril 21, 2009

CONFUSÃO

O desenho da criança e o esclarecimento que a Mãe se apressou a enviar ao Director da Escola:

"Exmo. Sr. Director da Escola,
Quero ser muito clara relativamente ao desenho que a minha filha elaborou na escola. Não quero que fique com a impressão errada. O meu emprego é na loja Home Depot., em Chicago, onde sou empregada de balcão. Há dias, contei à minha filha que fizemos um "dinheirão" vendendo PÁS para retirar a neve às centenas de automobilistas cujos carros ficaram bloqueados num grande nevão... É isso que o desenho retrata!!!"
(enviado por MBasílio)

CONFUSÃO

Viu vermelho, viu a abraçadeira de capitão... Estás a ver Piteira, como nascem as confusões ?

DISTRITAIS DE JUVENIS

O Carneiro ficou em segundo lugar. No sábado, no programa curto, fez uma prova limpa e ficou provisoriamente na primeira posição. No Domingo, no programa longo, voltou a fazer uma prova asseada, apenas vacilando no duplo ritteberger - que basicamente é um salto de rotação no pé de apoio, ou seja, vai num patim a recuar e tem que saltar dando duas rotações completas no ar e caindo no mesmo sentido de marcha em cima do mesmo pé.
No mapa da classificação, o Carneiro surgiu com 272 pontos contra 269 pontos do primeiro classificado. Não percebi a lógica. Perguntei e esclareceram que além da pontuação correspondente ao acumulado técnico do desempenho do patinador, os Juízes atribuem uma classificação relativa, na qual ordenam os patinadores. Nessa classificação, o Carneiro teve dois Juízes que votaram nele para o primeiro lugar e o outro patinador teve três Juízes que lhe fizeram outro tanto. Percebi, assim, que o acumulado de pontos não é decisivo para a classificação. Ou seja, no Hoquei, ao menos, a malta vê os golos a entrar. E, se não nos enganarmos a contar os golos, dá para perceber quem ganha.
Estava eu dividido com estas e outras profundas cogitações, a pensar para os meus botões onde iria comprar três cabritos para o próximo campeonato, quando o Carneiro veio explicar que era justo o primeiro lugar do Luis Galvão, por causa do tal duplo Ritteberger. Acrescentou, ainda, que estava muito feliz, pois nunca um Campeonato lhe tinha corrido tão bem em termos do respectivo desempenho individual. Foi o que valeu, pois eu já tinha ido buscar a caçadeira de canos serrados para escaqueirar a mesa dos taças e das medalhas...
Agora, fora de brincadeiras: a reacção do meu Filho mostra maturidade competitiva e seriedade desportiva. Estou muito orgulhoso dele. Mais do que se tivesse ficado em primeiro lugar. Não nego que se ele tivesse feito o primeiro lugar eu não estivesse aqui em exaltada celebração. Mas no desporto, o formação do carácter é tão importante como o treinamento físico. E a valorização da vitória do adversário é nobre e rara. Desta vez foi o meu Filho a dar-me uma lição.
Está apurado para os Campeonatos Nacionais que se vão realizar em Leça do Balio.

No próximo sábado sobe à cena o outro Carneiro nos Distritais de Infantis.

VOLTA AO ALENTEJO

Na Graça do Divor, na Rua das Traseiras. (Pois, que a Rua Principal é a da casa do JPiteira, não é esta...)

segunda-feira, abril 20, 2009

HIDRATAÇÃO

No sábado passei pela casa do Senhor Daniel no Bombarral e trouxe uma grade de fluido hidratante para a viagem a Santiago.

HISTÓRIAS V

(...continuação)

"Eram horas e no Lila os rapazes preparavam-se para partir. A colectividade ficava a trezentos metros, mas não parecia bem ir a pé. Os rapazes tinham que ter um carro, ou pelo menos um amigo suficientemente íntimo que o emprestasse em caso de séria necessidade. Era raro, mas acontecia algumas vezes levar a namorada e a futura sogra a casa. Por isso, tinham que estar preparados. Nessas ocasiões caprichavam na condução. Iam devagar para mostrar prudência e maturidade mas não resistiam a colocar o cotovelo esquerdo na janela para evidenciar altivo desembaraço na condução apenas com a mão direita. E largavam o volante para meter a terceira, num movimento bem definido e elegante, marcado pelo serpentear das omoplatas.Naquela noite eram dez rapazes e dois minis. Cada um aliviou o respectivo proprietário, contribuindo com vinte escudos para a gasolina. Decidiram que o Asdrubal devia ir num dos lugares do morto para não amarrotar o fato. Ainda assim, Asdrubal despiu o casaco, dobrou-o com o forro para fora como vira o Faustino fazer e depositou-o com cuidado no colo. O outro mini já largara na frente para reconhecer o terreno e para ocupar as respectivas posições estratégicas. Asdrubal num exercício de auto-convencimento, repetia para si próprio vais ser capaz, vais ser capaz, vais ser capaz. E cerrava os punhos a dar consistência ao querer. Sentia que estava a viver um momento histórico que lançaria o resto da sua vida. Um momento épico que serviria para dar o exemplo de decisão a filhos e a netos nas hesitações que estes tiessem que enfrentar. Enfim, um daqueles sofridos momentos só superados por quem fazia das tripas coração, num transbordar valente de alma que permitisse mais tarde rir orgulhosamente das dificuldades ultrapassadas.
Chegaram. Asdrúbal, com uma coragem que não lhe conheciam, vestiu resoluto o casaco e investiu sereno e confiante porta-dentro ao som de um tango aprimorado no choro lastimoso do acordeão. Ao contrário dos habituais encontrões necessários para aceder ao salão de baile, toda a gente se desviava, dando-lhe voluntariamente passagem. Parecia que estavam todos à sua espera. Por esse corredor vinha um dos amigos, o Clarau, ao seu encontro com ar preocupado, tentando pegar-lhe no braço, a retê-lo. Asdrubal pensou que ele lhe iria dar mais um conselho de última hora e esquivou-se, confiante, a tão inconveniente cena pública. Tinha resolvido, estava decidido, que lhe saíssem da frente. Com o impulso da decisão rapidamente chegou ao salão de baile. Para sua surpresa, ninguém dançava. O baile ainda não fora aberto. Por isso todos olharam para Asdrúbal a avaliar o seu resplandecente fato azul-marinho. Alguns sorriam, pondo a mão na boca. Outros comentavam para o lado rindo descaradamente. Asdrúbal olhou em volta desorientado, sentindo-se o centro das atenções. O seu olhar fixou-se na orquestra. E então percebeu. Os oito músicos e o vocalista estavam vestidos de igual. Cada qual com o seu fato azul-marinho claro. A encomenda da fábrica de Santiago de Riba Ul tinha sido para a orquestra. Asdrubal por um momento gelou. Gestos e pensamentos. Finalmente, recobrado, deu meia volta e abandonou a sala enquanto tirava com um gesto digno o gancho das calças que se lhe enfiava no rabo.
Epílogo
Asdrúbal nunca mais seguiu a professora que, no final do ano, pediu transferência para outra escola, já que a idade ia avançando e não podia ficar toda a vida à espera. Nunca mais vestiu um fato inteiro. Mesmo nos casamentos e funerais passou a vestir o mesmo blazer preto com umas calças cinzentas claras. Nunca mais um fato completo. Esteve um ano sem ir a bailes. Quando voltou, dirigia-se directamente ao bar de onde só saía para voltar a casa. Tornou-se um especialista em Benfiquismo. Coleccionava jornais desportivos, posters da sua equipa, cromos dos jogadores que trocava com os miúdos, camisolas, calções, meias, inimizades com adeptos de outros clubes. Sabia de cor todas as linhas que, jogo a jogo, tinham defendido o seu querido glorioso nos últimos cinquenta anos. Punham-no à prova, perguntando a linha da equipa no jogo Atlético-Benfica no campeonato de 1956/57, ainda antes do seu nascimento. E Asdrubal brilhava. Cantava, como na tabuada, o nome dos jogadores, lesões e substituições, referia o resultado no final do jogo e ao intervalo, lembrava o nome do árbitro e dos fiscais-de-linha, recordava a data e hora do jogo, até sabia se tinha chovido. Asdrubal descobrira o seu verdadeiro amor. Isso bastava-lhe. Para quê aturar mulheres. Foi viver para Lisboa. Perdido na multidão não tinha que justificar o celibato. E acordava todos os dias pertinho do Estádio da Luz."

ANTIGOS


Há 30 anos que não via alguns e algumas. Lembrámo-nos de muitos mais que não compareceram por não lhes ter sido possível ou por se ter perdido o contacto. Dos que faltaram, senti em especial a falta do Pe. Cerca e da Adriana. A sopa de legumes estava fenomenal.
(Nota de conforto psicológico: Não sou o mais gordo.)

VIDA DE MÉDICO

"Tenho esta comichão na perseguida porque o meu marido tem uma infecção na ponta da natureza."

in "A Medicina na Voz do Povo" do médico Dr. Carlos Barreira da Costa.

sexta-feira, abril 17, 2009

HISTÓRIAS IV

(Já que o Pulanito e o Ruiruim estão a gostar (benfiquistas desconfiados não contam), aqui se adianta mais um episódio para o fim-de-semana.)

(...continuação)

"Sábado de manhã decidiu vestir o fato. O Baile da Pinhata era à noite. Não podia adiar mais. Resolveu andar todo o dia com o fato para se habituar. Vestiu uma camisa branca. Ainda tinha a nova para a noite. Por isso, podia sujar aquela. Agora que se via ao espelho, sózinho e sem os tagarelas a martelarem-lhe a vontade, estranhou o azul claro da silhueta. Que raio, na loja do Faustino o fato parecera mais escuro. Devia ser da luz. Recordou que na loja a luz era artificial. E no Baile da Pinhata também. Por isso, tinha que desconsiderar a luz natural.
Buscou uma gravata. Mas, apesar de não ser muito entendido, percebeu que nenhuma das duas que possuía combinava com aquele tom de azul. Resolveu voltar ao Faustino. Ele dominava a matéria, seguramente teria uma gravata que não berrasse muito com o fato. Ainda bem que estava a provar o fato de manhã porque à tarde o Faustino estava fechado - pensou aliviado. E pôs-se a caminho. Saiu colocando as mãos nos bolsos a conferir naturalidade à marcha. Encontrou a vizinha do mini-mercado que de imediato exclamou, estás tão bonito, descansa que vai tudo correr bem. Asdrubal surpreendeu-se com o comentário. Não percebia a que propósito a vizinha se permitia a uma intimidade daquelas. Ainda menos ao que ela se referia com aquele vai tudo correr bem. Logo a seguir, passou pela Praça de Táxis onde o Zeca passava o lustro ao mercedes. É assim mesmo, leão. Ela vai-te cair nos braços. Asdrubal irritou-se. Está a chamar leão a quem ? bem sabe que nada tenho a ver com essa gente. A exaltada profissão de fé benfiquista nem lhe permitiu ouvir a segunda frase. Até à loja percebeu que as pessoas o olhavam com insistência e simpatia. Pensou que seria apenas por não estarem habituados a vê-lo de fato completo. Estava longe de saber que todos o apoiavam incondicionalmente na conquista da professora.
A culpa era da costureira do Faustino. Ouvira as conversas dos rapazes, assistira às diligências do patrão, emendara o fato e divulgara pela terra o segredo. Provavelmente àquela hora até a professora primária sabia que o fato novo lhe era destinado. Só Asdrubal guardava para si o íntimo segredo da sua paixão. Pelo caminho, Asdrubal incomodou-se com o desempenho da vestimenta. Com o andar, as calças metiam-se no rabo obrigando a puxá-las para fora a cada dez passos e o casaco apertava-lhe os ombros não lhe permitindo mexer os braços. E uma semana antes a porcaria do fato até lhe caíra tão bem. Se calhar engordara. Devia tê-lo vestido antes. Agora já não dava para emendar.
O Faustino, uma vez mais competente, escolheu uma gravata azul escura com uma malha fininha no tom aproximado do fato. Não era uma obra-prima, mas desenrascava. Não se conteve e desabafou que era difícil encontrar uma gravata compatível com um fato daqueles. Asdrubal afligiu-se: oh Faustino, mas fica assim tão mal ? O profissional de moda sossegou-o que não se ralasse; Não seria pela gravata que ele poderia ser criticado.
Asdrubal almoçou bem. O nervoso abria-lhe sempre o apetite. Quando se levantou, as calças, puxadas pela leve dilatação ventral, ainda se enfiaram mais no rabo. Raios, não se lembrara disso. Decidiu não jantar para amenizar o incómodo. E, à noite, não despiria o casaco para que não lhe vissem o rabo vincado. O pior seria dançar com os braços quase imobilizados. Só lhe restaria dançar devagar, devagarinho, se calhar a esfregar o toucinho. Corou com a antecipação das sensações. E sentiu as calças ainda mais apertadas.
Reuniram-se no Lila. Para a bica e para fazer horas. O Baile estava marcado para as nove, nunca começava antes das dez e só os casados e as namoradas acompanhadas pelas mães chegavam antes das onze. Os solteiros chegavam só pelas onze horas quando todos lá estavam, mostrando falsos alheamento e desinteresse. Como se estivessem ali por favor, a condescender magnânimos na comparência. Obrigavam as namoradas a esperar, para que elas se angustiassem um pouco, temendo que eles não aparecessem. Era a forma de as por à prova, obrigando-as a declinar os convites para dançar que entretanto surgissem, numa fiel e exclusiva espera pelo sempre incerto e imprevisível namorado. Tinha de ser assim para elas perceberem, desde logo, quem mandava. Rapariga que resolvesse não esperar estava feita. Não reatava o namoro, nem que escrevesse uma carta a suplicar perdão e a prometer lençóis. Os bailes exigiam essas provas públicas de fidelidade e de submissão. Em especial o Baile da Pinhata.
Nos últimos dois meses não se dançara por causa da quaresma. E a Pinhata era o baile mais frequentado de toda a programação anual da colectividade. Mais importante ainda que a passagem de ano que via a clientela dividir-se pelas discotecas, naquela época apelidadas de boites. O Baile da Pinhata era assumido como a abertura da época de bailes, o primeiro de uma longa série de festejos que se sucediam semanalmente até ao final do verão em honra das Nossas Senhoras Padroeiras das freguesias das redondezas. Por isso, fora preparado com minúcia e detalhe desde o último carnaval. O conjunto musical tinha que ser a sério, não servia um qualquer coça-na-barriga. Normalmente contratavam uma pequena orquestra ligeira. Para lá das violas eléctricas, baixo, orgão e bateria, comuns aos outros grupos de baile, a orquestra integrava sempre um naipe de metais, com saxofone, trompete e trombone de varas. Por vezes, até um acordeão electrónico para os solos de piano e fundos de violinos. E sempre um exaltado vocalista com comprovada potência vocal que gritasse a preceito as rimas dos slows, como que a ilustrar as ganas desesperadas do aperto, do roço."

SUBSÍDIO


Este é um exemplo da irracionalidade económica dos subsídios à indústria automóvel. O Sócrates deveria, isso, sim, isentar de imposto automóvel os carros montados em Portugal, tornando-os significativamente mais baratos. Até eu trocaria de carro em plena crise. E, isso sim, é que reactivaria a indústria. Agora, subsidiar a produção - a oferta em geral - só cria fenómenos de irracionalidade, enquanto as linhas de montagem não fecham de vez, esgotados os balões de oxigénio em que se transformaram os subsídios anunciados. Porque a procura é que faz mexer a economia. Digo eu.

KIMBIKES

O Kimbikes também tem um blogue, mas manda este material para aqui para evitar que a mulher ralhe com ele. (É um caso da influência do conjuge na linha blogo-editorial que merece ser estudado com atenção noutra oportunidade.)

Em especial para o Ricardo de Évora, e "farinheiras" em geral, bom fim de semana !

DISTRITAIS

Este fim de semana em Santa Susana e Pobral (ali ao pé de Carvoeira, Mafra e Ericeira), Campeonatos Distritais de Lisboa de Patinagem Artística nos escalões de Cadetes, Juvenis, Juniores e Seniores.
Nestes escalões o espectáculo já merece ser visto pelo público em geral. Aconselho vivamente. Em especial no Domingo, no programa longo. Almoça-se ali pela região saloia e poupa-se gasolina enquanto se assiste ao espectáculo no pavilhão a coberto da chuva.
O Carneiro mais velho vai competir em Juvenis pelo Alverca Futebol Clube. Os sete primeiros ficam apurados para os nacionais. Não será difícil porque só estão inscritos 3 juvenis masculinos. As raparigas vão ter que se esforçar muito mais, pois estão inscritas 14.

HISTÓRIAS -III

(...continuação)

"Passaram ao guarda-roupa. Asdrúbal andava sempre de jeans, camisa de flanela e blusão preto de cabedal. Após exaustivo e renhido debate, concluíram que aquela roupa não era digna de uma professora primária. Adivinhavam que ela aceitaria Asdrubal mesmo de fato-macaco ou em cuecas. De preferência sem elas. Mas era uma professora primária, símbolo de respeito na terra. Por isso decidiram que Asdrubal devia apresentar-se de fato inteiro. Não de fato escuro, solene em demasia, mas numa cor alegre e jovem que ligasse bem com o seu tom de pele e transmitisse frescura e leveza.
Definido o conceito, compraram revistas da moda. Fizeram recortes. Discutiram acaloradamente. Finalmente, chegaram a consenso perante um modelo azul-marinho envergado com natural elegância por um fulano no convés de um iate de copo na mão. Sim, senhor. Asdrubal era alto, era elegante, estava habituado a segurar o copo, só lhe faltava o fato e o iate para encarnar aquela sofisticada personagem. Aquele fato era o ideal. Definitivamente. Foram de propósito a Lisboa. Correram as lojas da Baixa. A Rua dos Fanqueiros, a Augusta, a Aurea. Mas não encontraram aquele específico tom de azul-marinho. Decidiram recorrer ao Faustino. Em tempos o Faustino fora do grupo, mas deixara a boémia por causa da loja do pai. Tinha que abrir a loja diariamente e não se podia deitar tarde. Ao sábado de manhã, visitavam-no quando chegavam da noite. E brincavam com ele. Do maior ao mais pequenino, compre no pronto-a-vestir Faustino. O trabalhador, saudoso de chegar àquela hora a casa e tolerante com a irreverência dos amigos numa compreensão do bafo pesado, apenas pedia com responsabilidade profissional para não dizerem a graça em frente às empregadas. Ele era o patrão e não podia admitir públicas faltas de respeito.
Conhecedor, o Faustino advertiu que seria difícil encontrar aquela cor. Que raio de ideia, tanto fato decente que ali tinha para vender e tiveram logo que escolher uma cor daquelas. O mais que podia fazer era telefonar para os fornecedores, a saber da existência pouco provável dum fato azul-marinho. Se calhar só por encomenda. Uma semana depois, Faustino tinha a solução. Sempre fora competente e desenrascado. Havia uma pequena fábrica em Santiago de Riba Ul, concelho de Oliveira de Azeméis, que garantira ter aquele padrão. Enfim, presumia-se que a cor era a mesma já que a explicação telefónica era sempre contingente. Tinham fabricado uma encomenda de dez fatos e sobrara um. Se quisessem, pedia-se à consignação para ver se servia. Dois dias depois, o fato estava na loja do Faustino. O tom não era exactamente o azul-marinho pretendido. Era mais aberto, mais claro. Mas enfim, já era tempo de se tomarem decisões. Não podiam começar de novo a busca. Convocaram Asdrubal. Ele compareceu sem saber ao que ia. Reagiu que nem pensassem. Não só não iria ao Baile de fato inteiro, ainda menos naquela figura apaneleirada. Os amigos insistiram, mostraram-lhe o recorte da revista, garantiram que ele iria muito bem posto, muito moderno. Salientaram que até os gajos com iate se vestiam daquela maneira. E recordaram que uma professora primária estaria à espera que o seu namorado não fosse exactamente o zé-da-esquina, mas alguém que se evidenciasse, embora discretamente, pelo seu moderno bom-gosto. Vocês acham ? perguntou Asdrubal esperançoso. Todos acharam convictamente. E ficou decidido.
Faustino, habituado, ajudou na marcação das bainhas das pernas e das mangas. Meteram dois centímetros para dentro no gancho das calças para realçar a virilidade, à toureira, e cinco centímetros na costura das costas para evidenciar os ombros largos de Asdrubal.
A costureira do Faustino no dia seguinte tinha a obra pronta. De sua iniciativa reforçara os enchumaços nos ombros. Compareceram entusiasmados para a última prova. Assentava que nem uma luva. Mas o Asdrúbal, seguramente por falta de hábito, não se sentia confortável. Alvitraram que deveria andar com o fato um dia ou dois para se ir habituando. Os fatos eram como os sapatos. Só o uso lhes dava a forma, garantia a opinião experiente de Faustino. Asdrubal rendeu-se. Levou o fato para casa. E uma camisa branca.
Ainda tinha oito dias para o experimentar. Não tinha pressa, já que iniciar o uso significava assumir em definitivo a decisão e Asdrubal sentia um desconforto latente, uma sensação de perigo, como um aviso que os seus falecidos Pais lhe estivessem a enviar do outro mundo. Percebia que não era só a antecipação do esforço que teria de fazer no Baile da Pinhata, violentando toda a sua timidez. Havia algo de inexplicável na sua resistência à ideia. Por isso, foi atrasando a rodagem do fato. Tentou sossegar-se, convencendo-se de que o mal-estar lhe advinha do passo decisivo a que seria obrigado em prol da sua felicidade pessoal. Mas os olhos e as formas elegantes da professora valiam o esforço."
(continua...)

quinta-feira, abril 16, 2009

QUEM ?

Pergunta de um jornalista inglês:
- Para além de Cristiano Ronaldo, que jogadores do Manchester admira?
Resposta de Lucho:
- Eu nunca disse que admiro o Cristiano Ronaldo...

TOMEM LÁ

Já que andas por aqui a gritar slb, slb, passas a lavar os olhinhos em cus destes. Nem a imaginação ajudará, pois que sabemos que as orientais são de ancas estreitas e escorreitas, do tipo cú de carapau seco.
Tu e o Piteira, esse perigoso benfiquista que já não tira o capacete, não merecem mais.

NAMORO

"NAMORO"


Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando
de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas
Sua pele macia - era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce - como o maboque...
Seus seios, laranjas - laranjas do Loje
seus dentes... - marfim...
Mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.
Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou:
Por ti sofre o meu coração"
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou


Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo, rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigenia,
me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não.

Levei á Avo Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
pra que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, á porta da fabrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficamos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor...
e ela disse que não.

Andei barbudo, sujo e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
"-Não viu...(ai, não viu...?) não viu Benjamim?"
E perdido me deram no morro da Samba.

Para me distrair
levaram-me ao baile do Sô Januario
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso
as moças mais lindas do Bairro Operário.

Tocaram uma rumba - dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí Benjamim !"
Olhei-a nos olhos - sorriu para mim
pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim.


Viriato da Cruz, Angola

HISTÓRIAS II

(...Continuação)

"Mas Asdrúbal nem sempre fora assim. Pelos vinte e dois anos apaixonara-se por uma professora, recém-formada pelo Magistério Primário de Caldas da Rainha. Era uma morena elegante e alegre, olhos vivos e riso fácil. Asdrúbal nunca se aproximou ao ponto de chegar à fala. Mas seguia-a de longe. Arranjava maneira de passar pela Escola às quatro e meia da tarde quando ela saía.Todos os dias tomava o pequeno-almoço na pastelaria da esquina para a ver bocejar em frente ao galão com torradas, com uma suave olheira tão sensual. Como ele apreciava aqueles momentos de intimidade matinal. Imaginava uma mesa na marquise com vista para o jardim relvado, um centro de flores frescas e naturais a perfumarem um pequeno almoço tomado por ele, pela professora e por duas crianças louras, enquanto trocavam gestos de carinho e palavras de amor. A cena não era original. Vira-a na televisão a publicitar uma manteiga com pouco sal. Mas não importava. A cena era tão bonita, que bem poderia servir para si. No seu devaneio Asdrúbal apreciava a olheira da professora bem sabendo ter sido o causador da falta de descanso nocturno. E isso bastava para o estimular de novo. Asdrúbal, em cada manhã antecipava a sua felicidade futura, menosprezando pormenores como a cor do cabelo das ficcionadas crianças. O quadro geral é que importava. Naquela fase, queria lá saber de quem tinham herdado o louro do cabelo. Por isso, Asdrubal fazia tudo para ver a professora, numa fidelidade canina, só para alimentar os seus sonhos de felicidade. Nunca revelou aos amigos a sua calada paixão. Mas eles descobriram o destino dos olhares mortiços, o incómodo quando comentavam as pernas da nova professora. Tentaram ajudar, fazendo chegar à professora a informação. Ela inicialmente riu-se. Mas passou a enfrentar os olhares de Asdrubal, num convite ao cumprimento, à conversa. Mas Asdrúbal enrolava, enrolava. Nunca mais avançava. Numa ocasião, provocante, ela proferiu um abrangente bons-dias, como quem se dirige a todos os presentes. Asdrúbal sentiu que a frase era para si, percebeu que aquela era a sua oportunidade e tentou responder. Mas com a ansiedade a língua e os lábios secaram. Abriu a boca, mas não emitiu qualquer som. Corou, ainda mais envergonhado. À noite escrevia extensas cartas apaixonadas, delirando o seu amor, explicando a sua timidez, protestando a seriedade da sua intenção, garantindo as suas honestidade e capacidade de trabalho. Mas nunca tivera coragem para enviar as cartas. De manhã rasgava-as, como se a luz do dia revelasse o ridículo dos sentimentos. Os amigos insistiam com ele, davam-lhe conselhos. Garantiam a receptividade. Ele só tinha que avançar, caramba.
Combinaram que no Baile da Pinhata, Asdrúbal teria mesmo que se decidir. Nem que tivessem de o arrastar. Ele teria que convidar a professora para dançar e depois deixava-se a natureza seguir o seu curso. Num frenesim, todos colaboraram na preparação da operação. Como se fosse militar. Visitaram o salão de baile com antecedência, medindo os metros, levantando croquis, antecipando as prováveis localizações da professora, prevendo trajectos, configurando procedimentos. Para cada alternativa, planearam a colocação de um elemento para a necessária obstrução a algum espontâneo que se antecipasse com inconveniência a Asdrubal no convite à professora Cada um dos topos do salão mereceu um Plano alternativo que ia da A a D. Treinaram individual e colectivamente. Até escolheram os mais musculados para pegarem em Asdrubal pelos braços, no caso de ele manter as costumadas hesitações. Ou seja, ia ser a sério."
(Continua..)

INSTINTOS


Porque será que esta parte do corpo feminino é tão atraente?
(Post manifestamente manhoso, a disfarçar a conversa do golaço do Cristiano Ronaldo)

quarta-feira, abril 15, 2009

RADICAL

DEIXA FICAR

Faltam 20 minutos e é melhor que fique assim. A malta está com as pernas perras e já não vai lá. E o que interessa verdadeiramente é ser-se eliminado para que a dedicação à Liga doméstica seja absoluta. A próxima época é que vai ser importante para esta equipa. Também em termos europeus.
Fica o espectacular golo de Cristiano Ronaldo que tem tanto de mérito como de má colocação de Helton. Mas ele tinha que dar a sua fifiazinha. Esperemos que fique por aqui.

HISTÓRIAS - I

Por vezes ponho-me à prova e escrevo histórias. Tudo começou quando as enviava para o Bombarral, para o meu compadre JF, que era o meu mais entusiástico leitor. A minha comadre chegou, até, a manifestar algum desconforto pela leitura hilariada que o marido guardava sempre para o adormecer e com a qual se desculpava para não fazer o que devia. Para evitar mais problemas entre ambos deixei de escrever. Uma vez arrisquei a publicação de algumas das histórias num blogue, que uma especial amiga, a E., me abriu expressamente para o efeito. Sabia lá eu abrir um blogue.
Os meus amigos mais antigos já conhecem estas histórias e podem passar ao lado da respectiva leitura. Os que ainda não conhecem, façam o mesmo.
Mas em homenagem aos Sport Lisboa e Benfica, a primeira história é a de um benfiquista. E nem é para abrasar o benfiquismo. Então, é assim:
"Asdrubal tinha 40 anos de idade. Solteirão. Não tanto por vontade, mas por falta de jeito. Para com as mulheres. Só conseguia enfrentar as casadas. De preferência com amigos seus. Tratava-as como irmãs, como prolongamentos dos respectivos maridos. Até conseguia brincar quando o picavam, reclamando por ele nunca apresentar uma namorada. Não me digas que viraste, tentavam envergonhá-lo. Respondia sorridente e seguro que ainda não tinha nascido a mulher que o merecesse e como a única que o poderia interessar - referia-se galanteador à interlocutora - tinha casado com o seu melhor amigo...
Mas Asdrúbal reagia assim para disfarçar a sua timidez para com as mulheres e a sua inferioridade para com os amigos casados. Não era bem uma frustração. Era apenas uma sensação de vazio, de incompleto. No fundo invejava os amigos casados, a naturalidade com que cada um deles se referia no possessivo à respectiva mulher, o chilreio das crianças. Já respondera tantas vezes que ainda não tinha nascido a mulher que o merecesse que acabou por acreditar nessa polida explicação. Os amigos apresentavam-lhe solteiras, divorciadas, jovens viúvas com casa posta. Para o desemperrar, para o ajudar na dificuldade inicial. Mas Asdrúbal, sempre que se apercebia da potencialidade matrimonial da apresentação embatucava. Perdia o á-vontade, corava, engasgava as palavras. Olhava para a mulher e avaliava-a fisicamente. Não como ela era no momento, mas como viria a ser dali a vinte anos. Antecipava de imediato as décadas, e via-a gorda e flácida, a ralhar com ele, a reclamar por tudo e por nada. Asdrúbal fora criado por uns tios. E a Tia passava a vida a recriminar tudo e todos. O marido, por chegar tarde e o jantar estar frio, por chegar cedo e o jantar não estar pronto. O Planeta, por ser verão e estar calor, por ser inverno e o raio do tempo nunca mais aquecer. Os vizinhos, por terem filhos, que barulheira, por não terem, queriam levá-lo todo para a cova. Asdrúbal bem presenceara a vida amargurada do Tio, que tudo ouvia e calava para não potenciar mais gritaria. A Tia era gorda e anafada. Mas em solteira fora elegante e vistosa, conforme a caprichada fotografia em cima da televisão o comprovava. E Asdrúbal desde tenra idade que associara o casamento à obesidade feminina e às reclamações matriarcais. Mais, não se devia confiar numa mulher que fosse elegante e delicada aos vinte anos, pois que aos cinquenta seguramente estaria transformada numa megera anafada, flácida e exaltada. Bastava conhecer as mães delas para a confirmação genética. Por isso, nunca exercitara os modos da sedução, as palavras do cortejo, ainda menos os arrebates da paixão transportados no perfume de uma flor ou na graciosidade de um verso. Quando frequentava os bailes, não dançava. Ficava-se pelo bar a meter imperiais, a descascar tremoços. Normalmente servia de cabide aos amigos que lhe confiavam os blusões e os casacos para se poderem libertar na dança, na sedução dos corpos, até para dançar mais apertadinho naquela triste figura de esfregar o toucinho - como menosprezava Asdrúbal com algum amargo pelas uvas verdes. Acabou inevitavelmente por ser o padrinho de casamento de todos os seus amigos. E refugiava-se no Benfica, primeiro e derradeiro objecto do seu afecto.
(Continua...)
Nota do editor: A referência ao Benfica é uma técnica para captivar a atenção para o próximo episódio.

O CÚ DA FILHA DO JUDAS

Conclusões:
1. O Cú de Judas fica no Hemisfério Sul. Pelo menos o da filha.
2. Portugal fica ali, pelas bordas do rego.
3. Há cús que são, eles próprios, um mundo.

DIREITO À DIFERENÇA


HOJE À NOITE


Temos que jogar no Dragão com esta atitude mental. Se falharmos a eliminatória fica um travo amargo, face ao óbvio quase. Mas convém ter presente que só de há um mês para cá é que a equipa tem estado lubrificada. E apesar de ter entusiasmado com o Atlético e com o Manchester, não consigo esquecer a triste figura no Dragão contra os maiores do mundo. E equipa que no estado actual do futebol português não domine com arrogância um jogo com os maiores do mundo não pode aspirar a ser campeã europeia. Não gosto do estilo de Jesualdo. Acho que só aplica bem metade da táctica. Quando chega a altura de ter instinto matador e ir para a frente ganhar os jogos, mantêm-se o calculismo. Que tem resultado. Mas que não entusiasma muito. Foi isso que impediu que os maiores do mundo tivesem levado uma marca história esta época na Luz. E essas oportunidades, até porque têm a ver com a educação dos mais novos, não se podem desperdiçar.
De todo o modo, Jesualdo está de parabéns. Depois do jogo em Old Traford, calaram-se os papagaios. Até a besta do Gobern meteu o rabo entre as nalgas volumosas e deixou de aparecer. O que tem sido uma vantagem estética e intelectual para a RTP-N.

PRECISO OPINIÕES




Tenho em confronto duas hipótese de iluminação. Vamos abstrair do preço porque não adianta poupar agora umas dezenas de euros para ficar às escuras numa estrada ou numa mata.
A de cima é a Powerled, usa a tecnologia Led, na posição mais potente das três disponíveis atinge a intensidade de 90 lumens (não me perguntem o que é esta medida, que não imagino).
A de baixo usa a tecnologia halogéneo e em 5 W atinge 40 lumens e em 10 W atinge 60 lumens. Das especificações consultadas em três línguas (inglês, francês e espanhol) não percebi se uma das "tochas" só emite em 5 W e a outra em 10 W, ou se cada uma delas tem a possibilidade de emitir ou em5 ou em 10 W (não é só em português que se escreve mal).
Mas a questão que quero pôr à consideração dos betetistas nocturnos com experiência nestes equipamentos é a seguinte:
1. Powerled e halogéneo. Qual a mais eficiente em termos de foco e difusão da luz ?
2. Qual dos sistemas (baterias) aguenta mais e com qual corro menos o risco de ficar às escuras ?
Adianto que estou inclinado para o sistema de halogéneo porque com duas "tochas" e duas baterias fico com o assunto resolvido para os próximos 50 anos. Mas a questão é a durabilidade das baterias deste sistema. Se a opção fosse apenas entre kits com uma "tocha", a opção seria o sistema Led. Não sei porquê mas inspira-me mais confiança. Até porque este sistema admite a bateria recarregável e, em complemento, pilhas AA. O que admite um reforço na mochila sem peso muito significativo. Ou seja, um sistema muito mais flexível.
Há por aí alguém habituado a andar com lampadas de halogéneo ?
A quem ajudar, paga-se uma bifana numa rulote junto ao Estádio do Dragão.

terça-feira, abril 14, 2009

NO PEITO...

...onde se guardam as coisas importantes.

PINHEIRO NO PULMÃO

Notícia do Diário Digital

"Os médicos haviam diagnosticado um cancro a Artyom Sidorkin, de 28 anos, quando este começou a tossir sangue e a queixar-se de dores insuportáveis no peito.
Mas, quando iniciaram a cirurgia para extrair o tumor, os médicos depararam-se com uma pequena árvore, em perfeito estado, a crescer no pulmão do paciente.
«Tive que piscar os olhos três vezes, achava que estava a ter uma miragem», afirmou o cirurgião Vladimir Kamashev do Hospital Izhevsk na Rússia.
Os médicos acreditam que Artyom inalou uma pequena semente que germinou no seu pulmão e que as dores que o paciente sentia era resultado das folhas em forma de agulha do pinheiro a espetarem no tecido."
Se a semente tivesse sido de um chaparro, além da cortiça, vinha com uma poia ao lado.