sexta-feira, agosto 31, 2007

CABRA DE VIDA


Na imensa subida de Sabugal para o planalto de Leomil, passei por Rapoula do Côa, Cerdeira e Parada. Algures por aí, vinha pela beira da estrada uma indefinida forma negra sem contrastes de luz. Só bastante perto percebi que no meio da meia dúzia de cabras vinha uma Velha, de lenha à cabeça, tão de preto quanto o rebanho. Parei e pedi autorização para a fotografar. Afastou-se pensando que a objectiva era apenas para as cabras. Fiz-lhe sinal para ela se juntar aos animais. Esticou um pé na direcção do meu reboque e perguntou:
- " E isto vem donde ? ".
- "De Lisboa".
- "Arre ! de Lisboa ?... Pensei que era de França."
- "Mas França é mais longe..."
- "Não é nada. França é já ali".
Percebi que ela não estava a falar de distâncias geográficas. A Velha, de preto como as cabras e a vida, considerava a Lisboa dos médicos, da pensão de reforma, do aeroporto da partida muito mais longe que França, já ali ao lado, de onde os filhos a visitavam num pulinho do mercedes e de onde fluía o pão que já não era de centeio nem paposseco, mas bijou e baguette.
Etapa 4, Penamacor-Pinhel, 93 Km, 5:59 Horas, 15,62 Km/h, 7239 Kcal.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

...pelos anos que trabalhei fora, na província, não me surpreende a atitude da mulher. É o país real, longe da realidade lisboeta.

16:36  

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