sexta-feira, agosto 31, 2007

PARA O FRANCIS


Acredita que tentei encontrar em verde...
Etapa 8, Bragança-Chaves, 102 Km, 06:03 Horas, 16,92 Km/h, 6251 Kcal.

CABRA DE VIDA


Na imensa subida de Sabugal para o planalto de Leomil, passei por Rapoula do Côa, Cerdeira e Parada. Algures por aí, vinha pela beira da estrada uma indefinida forma negra sem contrastes de luz. Só bastante perto percebi que no meio da meia dúzia de cabras vinha uma Velha, de lenha à cabeça, tão de preto quanto o rebanho. Parei e pedi autorização para a fotografar. Afastou-se pensando que a objectiva era apenas para as cabras. Fiz-lhe sinal para ela se juntar aos animais. Esticou um pé na direcção do meu reboque e perguntou:
- " E isto vem donde ? ".
- "De Lisboa".
- "Arre ! de Lisboa ?... Pensei que era de França."
- "Mas França é mais longe..."
- "Não é nada. França é já ali".
Percebi que ela não estava a falar de distâncias geográficas. A Velha, de preto como as cabras e a vida, considerava a Lisboa dos médicos, da pensão de reforma, do aeroporto da partida muito mais longe que França, já ali ao lado, de onde os filhos a visitavam num pulinho do mercedes e de onde fluía o pão que já não era de centeio nem paposseco, mas bijou e baguette.
Etapa 4, Penamacor-Pinhel, 93 Km, 5:59 Horas, 15,62 Km/h, 7239 Kcal.

'VARALIZAÇÃO'


O varal de um pobre ciclista é mesmo assim: pouco espectacular, mas eficiente. Desculpe Eduardo, mas as lycras que fazem boas fotografias não se usam em cima de uma bicicleta.
Etapa 1, Lisboa-Abrantes, 148 Km, 7:11 Horas, 20,17 Km/h, 9560 Kcal (a média foi muito prejudicada pelos dois ultimos Km de penosa subida para Abrantes)

CHAVES VELHA

A rotina da chegada incluía a hidratação com pelo menos litro e meio de água na primeira hora, a lavagem da roupa de estrada no lavatório e respectiva 'varalização', o duche rápido e o corte da barba, enquanto acompanhava na TV do quarto a chegada da etapa do dia da Volta dos Profissionais. Depois, 'halibutadas' as assaduras, 'burberryzado' que bastasse para disfarçar os bafios da roupa civil já usada na véspera e com a risca bem desenhada na guedelha molhada a imitar o Zé-Zé do José Mauro de Vasconcelos, saía em busca de um supermercado - o mais encontrado foi o Intermarché - para a aquisição de paio fatiado, bananas, água e pão com frutos secos que garantisse as refeições volantes do dia seguinte. Tentava encontrar postais ilustrados para enviar pelo correio aos meus rapazes - o que nem sempre foi fácil pois em metade das localidades não encontrei um único à venda.
Nesta volta de 2 horas que antecedia o jantar tentava recolher o pitoresco fotografável de cada localidade como um ladrão que assalta a vinha só comendo os bagos mais doirados do cacho.
A Cidade de Chaves foi a mais aprazível de todas as visitadas. Há sete anos que não passava por lá, mas as ruas estreitas da Cidade-Velha continuam a surpreender-me.
Etapa 8, Bragança-Chaves, 102 Km, 06:03 Horas, 16,92 Km/h, 6251 Kcal.

quarta-feira, agosto 29, 2007

MARIA JOÃO

Tenho uma amiga que é das artes plásticas. Certamente que olhará para este pitoresco da parte velha de Penamacor com aquele olho clínico de que os mortais só ouviram falar.

Etapa 3, Castelo Branco - Penamacor, 67 Km, 3:47 Horas, 18 Km/hora, 4570 Kcal

RIO CÔA

"Deixo que o tempo deslize imperceptível e tépido pelos meus cabelos, e nem versos faço. Para quê ? Poema é toda a página aberta diante de mim, caligrafada de esperança e de calma. Poema é o facho de claridade que incide sobre as coisas e os seres, acariciando com a mesma ternura inefável o bom e o mau, o perecível e o imperecível" - Miguel Torga, Portugal.

Etapa 5, Pinhel-Freixo de Espada à Cinta, 70 Km, 4:38 Horas, 15 Km/h, 4250 Kcal

MIGUEL TORGA


Nasceu a 12 de Agosto de 1907 em São Martinho da Anta, Trás-os-Montes. Faleceu em 17 de Janeiro de 1995. O seu verdadeiro nome era Adolfo Correia da Rocha. Foi Médico. E o Poeta das Fragas Transmontanas.
Tive com ele uma relação conflituosa despoletada na obrigatoriedade escolar de o ler. Repudiei porque a poesia nunca pode ser imposta. Ou aderimos ou odiamos. Se calhar mais por capricho, por obediência ao princípio, odiei. Até recentemente.
Por coincidência, acabei por passar o dia do centenário do seu nascimento -12.08.2007 - pelas estradas que ligam Bragança a Chaves.
À chegada a Lisboa ofereceram-me o livro "Portugal". Li e percebi que tinha passado pela maioria dos locais descritos por Torga naquele seu roteiro nacional comparativo de fragas, águas, almas e emoções.
Sem querer - como acontece com tudo o que é verdadeiramente importante - acabei por celebrar o Centenário de Torga a visitar os estímulos visuais, tácteis, feromonais, que provocaram a sua escrita e suscitaram a sua contemplação.
Que sorte que eu tive em ter sido iniciado na escrita de Torga desta maneira !

terça-feira, agosto 28, 2007

COIMBRA


Pedi a um betetista que me fizesse a fotografia apanhando a Universidade. Saíra de Mangualde, passara a Oliveira do Mondego e a Penacova seguindo o Mondego de perto desde a Barragem da Aguieira. Já tinha ido ao Continente comprar o almoço e um cartão de 1 Gb para a máquina fotográfica. Logo após, passei pelo 'Portugal dos Pequeninos' meti-me à subida pela estrada velha - com menos trânsito - por 4 quilómetros. Em Cernache tive que me meter na confusão do IC2 durante 3 Km até Condeixa. Virei à esquerda para a estrada de Penela, mas antes de Alfafar, atalhei, à direita, por Rabaçal até Ansião. Foi nesta última estrada que deparei com a surpreendente "Venda do Brasil". Nesta etapa segui o percurso recomendado pelo Zé Luis e pelo Rui Ferreira que alvitraram que terminasse a jornada em Coimbra com cerca de 100 Km. Mas eu estava com pressa de chegar a casa. As saudades do meu Vasquinho já eram insuportáveis. E tinha que atingir uma localidade que me permitisse no dia seguinte fazer a ligação directa até Lisboa.
Etapa 11, Mangualde-Ansião, 142 Km, 7:30 Horas, 19,52 Km/h, 7285 Kcal

RIBATEJO

"Quando o rio entumesce, e um mar de água se espreguiça por quilómetros e quilómetros de terras baixas e porosas, Portugal, sempre sequioso e árido, sente que aquela nesga de pátria é um mundo à parte dentro das suas entranhas - um mundo rico, de aluvião, de maná, em que não é preciso tirar dos abismos, a gastalho, a verdura duma couve, e se pode gastar o tempo numa lúdica e alegre faina, a cavalgar as asas do vento..." - Miguel Torga, Portugal.

Etapa 12, Ansião-Lisboa, 192 Km, 8:44 Horas, 22.08 Km/h, 9503 Kcal

CARMINDA


Um cantinho do Mondego para ti, Carmindinha.
Etapa 11, Mangualde-Ansião, 142 Km, 7:30 Horas, 19,52 Km/h, 7285 Kcal

XANTIPA



Para ti, Adriana, que costumas gostar das minhas flores.

Etapa 5, Pinhel-Freixo de Espada à Cinta, 70 Km, 4:38 Horas, 15 Km/h, 4250 Kcal


segunda-feira, agosto 27, 2007

ZÉ MIGUEL


As férias desencontraram-nos. Por isso, em Mangualde não consegui estar com ele nem conhecê-lo pessoalmente. Aqui vai um postal - Rio Nabão em Tomar - e um abraço pelo empenho no apoio à minha viagem. Não foi ele quem pagou a prometida sopa beirã - acabou por ser outro voluntário a fazer as honras à terra -, mas nem por isso a minha viagem foi alheia ao seu interesse. Até breve, Zé Miguel. E espero que continues a pedalar.
Etapa 12, Ansião-Lisboa, 192 Km, 8:44 Horas, 22.08 Km/h, 9503 Kcal

CAMPEÕES


Entre 30 de Julho e 4 de Agosto de 2007 decorreram em Gujan Mestras, França, os Campeonatos Europeus de Juniores (também de Séniores) de Patinagem Artística. Hugo Correia, 'o Huguinho' como ainda é chamado pela Treinadora e pelos colegas de treino, conseguiu duas brilhantes medalhas, com um segundo lugar na Prova de Combinado (ponderado de Figuras Obrigatórias e Prova Livre) e um terceiro lugar absoluto na Prova Livre. Respectivamente, medalha de Prata e de Bronze.
Em Pares de Dança, Madalena Bule e Tiago Galego obtiveram um igualmente brilhante segundo lugar, com direito à correspondente medalha de Prata. Estes par de atletas treina e representa o SC Serpa Patinagem Artística.
O Hugo Correia treina e representa o SLBenfica conjuntamente com os meus dois filhos rapazes. Por isso, as medalhas do Hugo foram celebradas lá em casa com muito entusiasmo e emoção.
A modalidade é completamente amadora. E se no caso do Clube alentejano, o esforço é partilhado pelos atletas, respectivos pais, treinadores e directores da secção da patinagem, no caso do Hugo, o Clube nem sonha que tem um campeão nas respectivas cores. Aliás, basta passar pelo site oficial do SLB para se aferir que os únicos campeões que por lá constam são os do futebol - e quem quiser que acredite nesses títulos por antecipação.
Tenho de convencer a Treinadora Judite Gomes - irredutível benfiquista e a única que nos faz suportar a cada vez mais penosa e inconsequente filiação clubística formal - a procurar um clube que apoie minimamente os seus atletas, que se dê ao trabalho de saber que eles existem. Imaginem que há cerca de um ano o SLB convidou para uma exibição de Patinagem Artística no seu Pavilhão principal o Sassoeiros, clube que na região de Lisboa não consegue ultrapassar o nível de sofrível nos respectivos resultados desportivos. Ou seja, os responsáveis do SLB nem para uma exibição de Patinagem Artística convidam os seus atletas para rolar no Pavilhão - onde não se treina para não estragar o pavimento em madeira -, condenando-os ao desprezo absoluto e ao treino num ringue com o piso em cimento, coberto precariamente em lona que os sujeita aos ventos e aos frios do inverno. Não fosse a Treinadora Judite Gomes tão tecnicamente competente e os meus filhos já estariam a treinar bem longe.

Da esquerda para a direita: Hugo, Madalena e Tiago.
Fotografias obtidas no blog patinar-prazer.blogspot.com, pois o site oficial da Federação Portuguesa de Patinagem nem sequer dispõe das fotografias dos atletas que tão bem representam o País e a própria Federação e que acabam por justificar as ajudas de custo - acrescidas nos campeonatos internacionais - de que vivem os dirigentes federativos. Ou seja, Portugal no seu melhor.

BERNARDO


O Bernardo, além de ciclista é pára-quedista militar. Aliás, foi recentemente promovido a Major.
Andou na Volta a Portugal em Bicicleta em serviços de comissariado e teve o telemóvel sempre desligado. Aliás, foi mais fácil vê-lo na televisão do que falar com ele. Por isso não me foi possível encontrá-lo em Castelo Branco e Viseu, locais onde o meu percurso se cruzou com etapas da Volta dos profissionais.
Na foto, a entrada para um dos quartéis militares onde ele prestou serviço.
Etapa 1, Lisboa-Abrantes, 148 Km, 7:11 Horas, 20,17 Km/h, 9560 Kcal (a média foi muito prejudicada pelos dois ultimos Km de penosa subida para Abrantes)

RUVASA


Vou dizer uma banalidade: o espírito humano é muito complexo. (pronto, está dita.)
Será eventualmente por isso que o meu cérebro me faz lembrar certas pessoas em concreto perante determinados estímulos visuais. Estava na povoação de Gimonde, junto à ponte sobre o Rio que lhe dá o nome. Tinha descido consecutivamente cerca de 14 Km desde uma povoação chamada Milhão, onde furara na roda da frente, aproveitando para mudar a câmara-de-ar numa sombra à beira da estrada onde fluía um fio de água fresca da montanha que me abasteceu os cantis, me refrescou a cara e os braços e permitiu lavar convenientemente as mãos. Por isso a fotografia até foi 'batida' com algum grau de higiene.
Lembrei-me do Ruben, naquele local. Em Gimonde. A uma escassa dezena de quilómetros de Bragança.
Etapa 7, Vimioso-Bragança, 56 Km, 3:33 Horas, 15.86 Km/h, 4027 Kcal.

FRANCIS


A parte psicologicamente mais dura de cada etapa foi a chegada. Depois de superada mais uma estrada quase intratável no declive , depois de mais uma experiência paisagística inolvidável, havia tanta coisa para comentar, tanta emoção nova para ruminar em saborosa conversa. Sim, porque metade do gozo da vida é fazer. Mas a outra metade é saborear o que se fez. E ninguém com quem conversar.
As sms do Francis interrompiam o silêncio e o vazio da solidão. Por vezes não mais que meras palavras de cortesia e de circunstância. Mas que eram lidas com a sofreguidão com que o náufrago abre a boca para as goteiras da chuva. Não há 'obrigados', porque estas coisas não se agradecem. Guardam-se num canto do coração.
Para minha surpresa acabei por dar com ele na beira da estrada a ver-me passar.
Etapa 12, Ansião-Lisboa, 192 Km, 8:44 Horas, 22.08 Km/h, 9503 Kcal.

quinta-feira, agosto 23, 2007

PÃO



Na viagem daquele dia só comi aquela bôla. Recheada de salpicão, chouriça e toucinho. Um euro e dez de puro prazer gastronómico. Em Argozelo uma senhora 'procurou-me' se eu não queria que me 'trouzesse' de dentro de casa - à porta da qual abancara a petiscar - 'um cafézinho' para não comer a bôla, assim, 'a seco'.
Estava prestes a chegar a Bragança e desejoso de esquecer Vimioso onde na véspera fora assediado por uma senhora com um buço maior que o meu bigode.
Etapa 7, Vimioso-Bragança, 56 Km, 3:33 Horas, 15.86 Km/h, 4027 Kcal.

SULISTA


Há pessoas que se tornam incontornáveis nos nossos caminhos.
Etapa12, Ansião-Lisboa, 192 Km, 8:44 Horas, 22.08 Km/h, 9503 Kcal.

quarta-feira, agosto 22, 2007

MATOGROSSO




A Estrada Nacional 221 que desce de Figueira de Castelo Rodrigo para Barca Dalva serpenteia em intermináveis meandros por entre os socalcos do olival e da vinha. É uma das paisagens mais cultivadas que encontrei. E, lá em baixo, o Douro. Obeso e anafado por força da barragem que lhe trava o curso. Até lá são mais de 10 Km a descer, a cortar curvas na trajectória ideal, com o vento na cara, a adrenalina na ponta dos dedos ensaiando as manetes dos travões e o espírito solto, a cavalgar o deslumbre da paisagem.

E dei por mim a cantar "Eu, bandoleiro, no meu cavalo alado..."

De repente percebi que ia vestido de lycra e não podia estar com canções daquelas num local público. Rápidamente gritei o imortal refrão Disco dos anos setenta "macho, macho man..." e logo a seguir para que não restassem dúvidas imitei Tom Jones e anunciei aos ventos "Sex bomb, sex bomb. I'm a sex bomb..."
Etapa 5, Pinhel-Freixo de Espada à Cinta, 70 Km, 4:38 Horas, 15 Km/h, 4250 Kcal.

COIMBRA



"Uma terra de suaves colinas, de verdes campos, banhada por um rio plano, sem cachões, a meio de Portugal, tinha necessariamente de ser o centro espiritual, universitário, da pequena pátria lusa. Também a nossa alma é de suaves relevos, de frescas paisagens, e banhado por uma corrente doce de amor e conciliação."- Miguel Torga, Portugal.

Etapa 11, Mangualde-Ansião, 142 Km, 7:30 Horas, 19,52 Km/h, 7285 Kcal

EDUARDO P. L.


Nas muitas horas em solitário entretenho o espírito em muita cogitação. Aliás, quando atinjo aquela abstração que me permite ir pedalando estrada fora sem me lembrar do intenso esforço físico, estou em condições de aceder aos meus transes filosófico-velocipédicos que, conforme decorre dos próprios termos, é uma discussão sobre a existência da divindade movida a pedal. Por vezes sou interrompido por algo que surge na paisagem. Foi o caso do tema desta fotografia.
É para si, Eduardo, gentil amigo que me envia do Brasil palavras de simpático carinho. Trouxe mais para si. Mas esta, pelo inusitado, tinha que ser a primeira.
Etapa 11, Mangualde-Ansião, 142 Km, 7:30 Horas, 19,52 Km/h, 7285 Kcal (nos primeiros 32 Km do dia, até Carregal do Sal, não tive velocímetro por falta de pilhas, pelo que o tempo total foi calculado por regra de 3 simples face às 5:41 Horas que demorei a fazer os restantes 110 Km)

terça-feira, agosto 21, 2007

SERRAS


"Serras sobrepostas a serras. Montanhas paralelas a montanhas. Nos intervalos, apertados entre os lapedos, rios de água cristalina, cantantes, a matar a sede de tanta aridez. " - Miguel Torga, Portugal.
Etapa 5, Pinhel-Freixo de Espada à Cinta, 70 Km, 4:38 Horas, 15,02 Km/h, 4257 Kcal.

TÂMEGA

" A truta, que representa com dignidade e bravura o mundo da barbatana, é nos açudes que mostra o que é". - Miguel Torga, Portugal.
Etapa 8, Bragança-Chaves, 102 Km, 06:03 Horas, 16,92 Km/h, 6251 Kcal.

MUROS DO MILAGRE


"Nas margens de um rio de oiro, crucificado entre o calor do céu que de cima o bebe e a sede do leito que de baixo o seca, erguem-se os muros do milagre. Em íngremes socalcos, varadins que nenhum palácio aveza, crescem as cepas como os manjericos às janelas". - Miguel Torga, Portugal.
Etapa 9, Chaves-Régua, 89 Km, 5:18 Horas,17 Km/hora, 5978 Kcal.
Algures na Estrada Nacional nº2, perto de Santa Marta de Penaguião.

segunda-feira, agosto 20, 2007

HOMENAGEM


No último dia da minha viagem fiz a ligação Ansião-Lisboa vestindo uma camisola igual a esta. Durante os 192 Km do percurso efectuado em 8:44 Horas prestei homenagem a Luis Almeida, o Senhor LA-Alumínios.
Voltou a ganhar a Volta a Portugal em Bicicleta. Era mais do que merecido pelo seu amor à modalidade. Para lá de ser um dos grandes patrocinadores do ciclismo profissional em Portugal - quem é que nunca ouviu falar da Marca LA-Alumínios ligada ao ciclismo ? -, a Marca sustenta equipas de sub-23, de escalões jovens e de uma escola de formação. E patrocina a equipa de cicloturismo na qual me incluo com honra e prazer. Ultimamente tem prestado grande ajuda nos passeios de cicloturismo organizados pela FPCUB na região da grande Lisboa em especial mediante a disponibilização de motoristas e carros de apoio.
Se transformássemos esta coisa da Volta a Portugal em Bicicleta numa cerimónia dos Oscares, Luis Almeida teria ganho o Oscar do Melhor Actor, do Melhor Filme e da Melhor Produção, tudo junto. Inevitável será, mais tarde ou mais cedo, o Oscar de Uma Carreira.
Parabéns, Luis, já era mais que tempo de voltar a ganhar a Volta.

ESTIVE LÁ



Os amigos desculparão o tom enaltecido e triunfante com que editarei os primeiros postes - na certeza de que com o passar dos dias o sentimento vai arrefecendo. Mas sou o único ciclista - que eu conheça - que teve a ousadia de ligar as cidades de Lisboa - Bragança - Lisboa de bicicleta, em solitário e em autonomia durante 1265 Km por 12 jornadas.

Por isso, façam o favor de 'parabenizar' que eu não me importo. Aliás, se edito um poste como este é mesmo para que os amigos elogiem a minha façanha.

Os outros - também alguns, poucos, da minha equipa -, podem continuar a falar pelas costas como usam e gostam. Depois de mais este desempenho ciclista permito-me encaixar com grande conforto todas as zombarias e parvoíces que me são dirigidas por aqueles que fazem do cicloturismo apenas uma imitação grotesca e ridícula do ciclismo profissional.

Nah, meus caros amigos. Não são ciclistas apenas aqueles que rapam as pernas, usam óculos escuros extravagantes, aplicam pomadas de aquecimento e agridem os mortais com ares sofisticados e altivos. O ciclismo pode-se fazer de formas muito diferentes, sempre com dignidade e proveito atlético. E muito prazer.
Compreender-se-á que depois de passar vários dias a pedalar mais do que 8 horas diárias, eu não tenha mais paciência para aturar cagões.
Ou seja, vamos fazer assim: quem já foi a Bragança e voltou, põe o dedo no ar e pode mandar-me bocas; quem nunca teve tomates para fazer isso, feche a puta da cloaca.

Porque Ciclismo é, acima de tudo, gostar de andar em cima de uma bicicleta. Nunca será inferiorizar aqueles que não têm capacidade física para fazer médias de 35 à hora durante uns escassos 100 Km.

CHEGADA


Chegada às 18:56 Horas de 17 de Agosto de 2007. Depois de 1265 Km e 82.115 Kcal.
Já só faltam onze meses e meio para a próxima.

PARTIDA


Avenida de Roma, Lisboa, 5 de Agosto de 2007, pelas sete e cinco da manhã.

sexta-feira, agosto 03, 2007

ROADING


Nem sei se a palavra existe em 'americano'. Mas até 18 de Agosto é o que farei pelas estradas entre Lisboa e Bragança. Quais exactamente não sei. Logo se vê. Agradeço aqui aos amigos que me têm enviado mensagens a desejar boa viagem. É um passeio de férias, mas também uma aventura física, agora que estou prestes a completar a idade do fascismo. E é a minha prova de vida.
Se por acaso se cruzarem ou ultrapassarem um ciclista na estrada não apitem. Assustam e podem causar um acidente. E se por acaso o ciclista for eu a tua mãe fica com as orelhas a arder.
Tentarei encontrar um ciber-café para enviar uns postalinhos com umas fotos.

quarta-feira, agosto 01, 2007

WARM UP


Já estou a aquecer os motores. Domingo dormirei em Abrantes. E Segunda-Feira estarei em Castelo Branco quando a Volta lá chegar. Ainda não saí de Lisboa e já alterei o percurso ? Claro que alterei. Se calhar queriam que desse hipóteses à Brigada de Trânsito para montar os radares à minha passagem... E no dia da partida logo se vê que estrada escolherei. É que estou dependente, além do mais, da orientação do vento.
A foto não é minha. Tenho poucas pois é muito difícil fotografar-me em andamento durante as minhas viagens em solitário. Já experimentei, mas só apanho chaparros e placas toponíminas.

SERIA TÃO BOM...

Que Contador, o puto eléctrico, mantivesse a cor sem suspeita ou mácula.


RUA DO CRUCIFIXO - LISBOA


Desde há anos que sinto a minha cidadania portuguesa e europeia retratada nesta alegoria paradoxal. Fazer força para quê ? Se estamos prisioneiros da nossa própria existência...
Olha, vou almoçar (último refúgio que a nossa civilização nos confere).