EIXO NORTE-SUL

Feriado em Lisboa. Junho de 2007. Meio-dia.

Descia de Monsanto pelo Bairro da Serafina com três horas e meia de bicicleta e mais de quatro mil Kcal consumidas. O Eixo Norte-Sul estava entupido.Fiz a fotografia a pensar neste post. Antes, pelos meandros do meu percurso arborizado, já passara por baixo e por cima do acesso à Ponte 25 de Abril pelo lado da Pimenteira. Também por ali o transito automóvel estava parado desde antes das dez da manhã. Por Alcantara e Praça de Espanha outro tanto seguramente. Os motores de milhares de automóveis em movimento. Cada automobilista e respectivos acompanhantes terão demorado pelo menos uma hora para entrar no tabuleiro da ponte. Mais uma hora até à Caparica e mais meia hora para ir estacionar a 2 Km da praia e aceder a ela a pé com a cadeira de praia às costas.

Uma deslocação à Praia, para um fugaz encontro com a natureza, custou alguns milhares de toneladas de CO2. Nestes dias, a portagem na 25 de Abril deveria ser caríssima. Para obrigar a malta a ir de comboio.

Um amigo que se juntou comigo ao fim da tarde numa festa de aniversário de um dos nossos filhos, confessou-me que o dia de praia dele o obrigou a 3 horas e meia dentro do monovolume. Na ida e no regresso.

Não consigo descortinar qualquer racionalidade neste sistema de lazer familiar.

"Isto" já não vai com meias palavras e processos de sensibilização social. A poluição atingiu níveis quase irreversíveis e "isto" só lá vai à bruta. Em especial com portagens caras para aceder às praias através de transporte individual em dias não-úteis.

Quem quiser usufruir do luxo ecológico em que se transformou o uso do automóvel individual tem que pagar por isso. Poluir não é um direito.

Mas isto sou eu a pensar em voz alta. Ademais, como gosto de bicicletas e fujo daquelas edificantes conversas em que se discute a quantidade dos cavalos dos motores com o mesmo empenho com que se desejam centímetros para a mirrada pila, fácil será de compreender que as minhas opiniões não deverão ser levadas a sério.