sexta-feira, junho 02, 2017

CLARO QUE COMPREENDO A DECISÃO DE TRUMP

O Acordo de Paris assenta em diferentes pilares
1. Nuns modelos matemáticos que antecipam aumentos de 2º Celsius a temperatura do planeta. E outros sub-modelos que indicam outros valores, que contrariam e/ou complementam aqueles etc. Mas todos os modelos são questionados por Académicos reputados. Os modelos adoptados em Paris foram aqueles porque sim. Poderiam ter sido outros. Foram aqueles porque permitiam atingir certas conclusões. Daqui a 100 anos logo se vê se estão certos. Toda a gente está a trabalhar com este grau de certeza científica.
2. Na constatação prática de que é necessário reduzir a emissão de poluentes para a atmosfera. Para lá do senso comum, os exemplos do FOG em Paris, Londres, Cidades da Califórnia ou Pequim aconselham que baste.
3. Na constatação de que a transformação dos actuais processos de energia para formas limpas custa dinheiro, muito dinheiro, e não se consegue fazer a curto prazo sem grandes perturbações nas economias domésticas dos Estados.
4. E, assim, combina-se que os Estados ainda podem continuar a aumentar as emissões poluentes até 2030, atingindo por essa altura o pico poluente, e só então começam a reduzir os valores das emissões.
5. A intenção de reduzir emissões assenta numa consciencialização ética dos Estados, que logo se verá depois de 2030 se vai ter concretização. Ou não.
6. Para ajudar os Estados mais atrasados na conversão das suas economias para formas mais limpas é instituído um Fundo Verde no âmbito da ONU.
7. E quem é o principal contribuinte para este Fundo ? Vão ser os USA com base num princípio punitivo e sancionatório, pois que sendo os USA o Estado mais desenvolvido do Mundo, foi este Estado que mais poluiu até agora, logo, deve pagar essa factura.
As consequências da decisão de Trump, do ponto de vista americano
1. Deixa de pagar o tal Fundo Verde e foge à humilhação nacional de ser punido, ainda por cima pelo seu sucesso económico.
2. Deixa de financiar Estados concorrentes, em especial a China, que iriam beneficiar do dinheiro americano depositado no tal Fundo Verde para reconverterem as suas economias para o verde e daqui a 13 anos estariam em situação de vantagem competitiva face aos USA.
3. Aproveita o dinheiro que não vai gastar no Fundo Verde para reconverter a sua economia para verde e para acudir a outras situações nacionais – pois que ele foi eleito Presidente exactamente para acudir aos americanos em dificuldades.
4. A Economia Verde que já estava em marcha nos USA, por mérito da administração Obama, desde que seja viável, obviamente que vai aumentar.
5. Actualmente todos os Estados estão ainda a aumentar as suas emissões até 2030 – e isto inclui Alemanha, França. China, Itália, Portugal e todos os histéricos que andam a gritar indignados por aí. Porque razão, os USA não podem aumentar um pouco as suas emissões para acudir a situações localizadas de desemprego ? Desde que não ultrapasse o limite de 2030, nem viola o espírito do AP.
6. Segundo algumas fontes, as emissões de CO2 nos USA têm vindo a baixar durante a administração Obama. Mas esse grande mérito de Obama, agora não convém ser referido, porque seria um trunfo para Trump. Ou seja, os USA devem ser o único Estado que está a baixar emissões.
7. E não é justo comparar as emissões de poluentes nos USA com as da China e India por valores per capita, porque o que se acumula na atmosfera são valores absolutos. E em valores absolutos é fácil perceber que o maior poluidor não é bobe expiatório. É de longe a China. Que seria o principal beneficiário do Fundo Verde onde os contribuintes americanos iriam enterrar triliões de dólares em nome de uma culpa histórica que o Senhor Obama achou que deveria assumir em nome de um Povo sem o ter consultado.
Minhas conclusões (e quem souber mais e melhor que me emende, que a informação está escondidíssima)
1. Se todos os Estados estivessem nesta fase a reduzir emissões, eu acharia a atitude de Trump de um egoísmo escandaloso. Mas não estão. Ele está a fazer apenas o mesmo que os outros. Até 2030 toda a gente está a aumentar emissões poluentes. Porque razão, o Trump é o único bandido neste filme ?
2. Os modelos que servem de base à discussão sobre o aumento da temperatura não me merecem confiança científica. Os senhores cientistas que se ponham de acordo. Eu neste momento, com base em estatísticas dos últimos 100 anos e perante ciclos da natureza que podem durar 5 ou 10 mil anos, sinceramente não sei em que pé está o clima no que respeita ao aquecimento global.
3. No que respeita à qualidade do ar, porém, já não tenho dúvidas. A emissão de poluentes é nefasta para toda a gente e a preservação das florestas é essencial. Ponto final, parágrafo.
4. Porém, qualquer vulcão que esteja seis meses em actividade contínua, polui mais do que os automóveis todos da cidade de Lisboa durante 10 anos. Por isso, o gigantismo dos fenómenos naturais tornam sempre ridículas as atitudes humanas. Mas nunca será por isso que eu deixarei de cumprir a parte que me cabe na preservação da ecologia que esteja ao meu alcance.
5. O Acordo de Paris tem muito mais a ver com o modelo de Economia Global conforme foi programada pelos globalistas da maçonaria do que com a Ecologia. A Ecologia é apenas o pretexto para a globalização que queriam que fossem os USA a pagar.
6. E é por isso que o histerismo está instalado.
7. Mas se forem ao Google procurar pormenores sobre o Fundo Verde, quem paga e quem recebe, qual a factura escandalosa que cabia aos americanos e quem é que ia receber subsídios, não existe uma única informação disponível. Porque essa informação evidenciaria o parasitismo e oportunismo de muitos, o patriotismno de Trump e a traição de Obama

quarta-feira, outubro 05, 2016

MARIANA MORTÁGUA SALVA O PAÍS (outra vez)


Mariana Mortágua, que já vai sendo conhecida como a Esperta da Geringonça atendendo à quantidade de soluções inteligentes que encontra para fazer justiça social, brilhou mais uma vez. Recorrendo a um conceito muito simples para distinguir os ricos dos pobres, quase intuitivo, diríamos nós, a promessa que já é uma certeza na política nacional, utiliza a quantidade de merda cagada por cada um para aferir o nível de rendimento do agregado familiar. O conceito é tão brilhante que só espíritos simples e puros como o de Maduro deu por ele quando justificou a falta de papel higiénico na Venezuela com o aumento da riqueza do Povo. Se o Povo cagava mais, gastava mais papel e por isso o papel higiénico acabou porque o Povo estava mais rico. Se estivesse mais pobre não cagava tanto. Partindo de base científica tão evidente e simples mas ao mesmo tempo tão impressiva, a nova coqueluche da política nacional, desenvolveu o conceito do cagómetro para medir a quantidade mensal de merda debitada por cada agregado familiar. A Autoridade Tributária instala em cada residência uma unidade central e cada detentor do NIF recebe um cartão que deve introduzir no cagómetro antes de arriar o calhau. As utilizações em cagómetros alheios ficam devidamente registadas no Portal das Finanças devido ao uso obrigatório do cartão, pois que sem a respectiva introdução a tampa não abre. Para evitar as fugas ao Fisco, ou seja, para evitar que a malta ande a cagar pelas matas, baldios e atrás do Ecoponto, o Portal das Finanças estabelece uma presunção mínima de merda diária para cada contribuinte, cujo valor ainda está a ser ponderado, pelo que não adianta andar a arranhar o cú nas silvas. Numa fase mais adiantada do projecto, o cagómetro poderá avaliar pelo cheiro e consistência o tipo de comida antes ingerida e aplicar as diferentes taxas de IVA correspondentes. Ouvida na SIC por Clara de Sousa que lambuza com carinho tudo o que seja entrevistado de esquerda, a brilhante futura Primeira Ministra, chegou a adiantar com incontido orgulho que bem poderemos estar no limiar de uma nova era fiscal: a do imposto único sobre a merda.

O ATAQUE ÁS PENSÕES DE 250 EUROS

Estamos todos recordados que o anterior governo não conseguiu fazer cortes parciais na Pensão de Sobrevivência. Ou seja, fazer cortes de 10% em pensões superiores a 2.000 mensais foi tido como profunda ofensa aos pensionistas da Função Publica. Os Sindicatos Comunistas vieram para a rua, o Bloco de Esquerda profetizou o fim do mundo, a Comunicação Social explicou que era o neo-liberalismo e o Tribunal Constitucional chumbou. Mas convém recordar que esses pensionistas da Função Publica a quem ia ser cortada a Pensão de Sobrevivência acima de 2000 euros, acumulavam essa pensão com a pensão própria, pois a de Sobrevivência era recebida por lhe ter morrido o marido ou a mulher. Ou seja, estamos a falar de pensionistas da Função Publica que recebiam DUAS PENSÕES em acumulação. E duas pensões, regra geral acima dos 2.000 euros cada uma.
Agora, o Governo da Geringonça está-se a preparar para alterar o Regime das Pensões não Contributivas. Em especial as Domésticas e algumas trabalhadoras rurais eventuais nunca descontaram para a SS. E o Regime das Pensões não Contributivas atribuía a estas pessoas, regra geral mulheres, uma pensão mínima a rondar os €250. Ora bem, o Costa mandou fazer contas e percebeu que estas pensões representam cerca de 1000 milhões por anos, ou seja, 0,6 % do PIB. E então o Governo da Geringonça, o Governo dos Pobres e dos Comunistas vai alterar a lei no sentido de que todas aquelas mulheres que estejam casadas com um homem que tenha uma pensão suficiente, vai perder a sua pensão de € 250.
Quando foi o caso das pensões de Sobrevivência que se acumulavam com outras acima de € 2000 não se podia cortar 10% porque eram Funcionários Públicos reformados. Mas agora como os reformados são do Povo  e do Regime Geral da Segurança Social e nada garanta que tenham votado nos partidos das Esquerdas já se pode ir roubar os € 250 às velhotas e deixá-las ainda mais na dependência das reformas dos maridos. Só o facto de se encomendar um estudo destes já é ofensivo. Até para a dignidade das mulheres que as adolescentes do Bloco de Esquerda tanto apregoam. Afinal o importante para as mulheres é penalizar os piropos. Grave para as mulheres portugueses é ouvir "oh filha, és tão boa". Isso é tão grave que merece prisão. Mas tirar-lhes a pensão de € 250 mensais já é uma normal medida governativa.  O Senhor Doutor António Costa e os seu Governo da Geringonça não têm vergonha ? É que este país está dividido ao meio. Para a Função Pública há tudo. Para o resto dos portugueses há pontas de corno para roer. Ao fim  e ao cabo o regime da Constituição de Abril não foi mais do que isto. Instalar uma classe pequeno burguesa no aparelho do Estado, torná-la rica e garantir-lhe os privilégios. Mesmo que à custa da pobreza e do atraso económico e cultural de um país inteiro. Este jogo de cortes nas pensões e a actuação escandalosa do Tribunal Constitucional são apenas meros indícios do funcionamento da trama e da sua tremenda falta de vergonha.

terça-feira, setembro 13, 2016

AS PATETICES DO CENTENO E DO CALDEIRA

Ex-ministro da Economia Daniel Bessa critica a aposta no crescimento por via da procura interna, dizendo que "fazer isso à escala de Portugal é uma patetice".
"Sou a favor de políticas de procura, mas não sou amigo de políticas de procura à escala de dez milhões de tesos e endividados, isso é uma catástrofe", disse.

quarta-feira, setembro 07, 2016

FINANTIAL TIMES ADMITE NOVA BANCARROTA

(artigo de Eva Gaspar no Negócios de 7 de Setembro de 2016)FT: Tempestade perfeita em Portugal pode tornar inevitável um segundo resgate?O jornal britânico analisa os riscos e as dificuldades que o país enfrentará caso fique sem acesso aos mercados financeiros e precise de pedir um segundo resgate aos parceiros do euro e do FMI.
Poderá Portugal evitar um segundo resgate da era do euro? Se não conseguir contornar esse risco, será que os parceiros do euro e o FMI concordarão fazer-lhe um novo empréstimo? Se assim for, será exigido aos detentores de dívida portuguesa que perdoem parte do que emprestaram ao Estado? E nesse cenário, quem sairia mais prejudicado: investidores estrangeiros ou portugueses?

Num texto de análise publicado nesta quarta-feira, 7 de Setembro, o Financial Times levanta e procura responder a algumas destas interrogações, assumindo que, em 2011, Portugal "escapou ao desastre de ser atirado fora da Zona Euro" mas a sustentabilidade económica financeira não está assegurada porque as reformas encetadas durante a era da troika não foram suficientemente longe. Citando empresários, o jornal escreve que em Lisboa está um governo que prefere agradar do que reformar um país cujas condições de financiamento estão excessivamente dependentes do "rating" atribuído por uma agência, a DBRS – a única que classifica os títulos de dívida emitidos pelo Estado português acima de "investimento especulativo", vulgo "lixo".

Sob o título "Reformas em Portugal não foram suficientemente longe para garantir a sustentabilidade financeira", o texto é assinado pelo editor de Europa, Tony Barber, surge no Global Insight, o espaço de análise e de comentário sobre assuntos internacionais do FT, e parte de uma advertência feita pelo Banco de Portugal quando o país terminou o resgate, em Maio de 2014, para concluir que, dois anos e quatro meses mais tarde, a entidade liderada por Carlos Costa acertou no essencial. Parte do caminho das reformas ficou por percorrer e "Portugal está no centro de uma tempestade perfeita de fraco crescimento económico, queda do investimento, baixa competitividade, défices orçamentais persistentes e um sector bancário subcapitalizado que detém muita da estratosférica dívida pública da nação".

Para lidar com este contexto, o país tem um governo socialista apoiado pela esquerda parlamentar que, "na visão dos empresários, está mais inclinado para medidas anti-austeridade que possam agradar multidões do que para reformas destinadas a melhorar a eficiência do sector público e encorajar o investimento". De seguida, expõe-se a dúvida: "A questão está em saber se os problemas do país tornarão um segundo resgate inevitável".

O texto prossegue tentando antecipar as dificuldades políticas e a complexidade financeira que envolveria um novo empréstimo internacional a Portugal. "As discussões seriam seguramente tumultuadas".  Dentro de um ano, há eleições na Alemanha e "nenhum partido da actual coligação de governo CDU/SPD quererá atrair a fúria do eleitorado ao negociar um resgate europeu liderado pela Alemanha sem a participação do FMI".  Mas, para voltar a participar, o Fundo exigiria muito provavelmente um "hair-cut", pelo menos na dívida detida por privados, como sucedeu no segundo resgate à Grécia. E nesse caso, há o risco de contágio a outros países do euro, que poderão ver as suas condições de financiamento igualmente agravadas, assim como o risco de piorar a já frágil situação dos bancos portugueses que deterão perto de 14% da dívida pública nacional.

De volta ao radar?

As condições de financiamento do Estado português nos mercados estão em níveis historicamente favoráveis, em larga medida devido às compras de dívida pública em forte escala que têm vindo a ser feitas pelo Banco Central Europeu (BCE). As emissões de nova dívida têm até sido realizadas com juros negativos nos prazos mais curtos. No mercado secundário, porém, os "juros" dos títulos soberanos portugueses continuam em torno dos 3% (no prazo de dez anos), valor muito mais elevado do que sucede, por exemplo, com as Obrigações do Tesouro de Espanha (abaixo de 1%) ou da Irlanda (0,4%), o que é revelador da fragilidade e do risco com que o país é encarado pelos investidores.

Na última semana de Agosto, várias publicações financeiras já haviam especulado sobre o risco de um segundo resgate. A causa próxima prendeu-se, na altura, com declarações do economista sénior da DBRS a mostrar preocupação com o abrandamento da economia e possível derrapagem orçamental. A agência canadiana é a única, que ao conceder um "rating" acima de "lixo" à dívida portuguesa, permite manter as condições de financiamento da economia nacional ligadas à máquina de "arrefecimento dos juros" em que se converteu o BCE. A DBRS vai reavaliar em Outubro a nota que atribui ao Estado português. Fergus McComirck disse, entretanto, que a agência está "confortável" com a notação actua

terça-feira, setembro 06, 2016

O GRANDE DESPORTISTA


sábado, setembro 03, 2016

MACRO-ECONOMIA POR QUEM TEM 5 ANOS DE IDADE



O modelo orçamental socialista, o tal anti-austeridade, baseava-se numa lógica muito simples. O Estado distribuía mais dinheiro pelas famílias, as famílias passavam a consumir mais e isso aumentava a procura interna o que iria provocar duas coisas: as empresas investiam mais para aumentar a produção que correspondesse àquele aumento do consumo, e as empresas tinham que criar mais empregos para corresponder àquele aumento de consumo. Em paralelo a este aumento do investimento privado, o Estado dava uma ajuda e aumentava o Investimento Público, o que tudo junto fazia diminuir o desemprego e fazia aumentar o PIB. Ou seja, era a matriz do Senhor Keynes aplicada mais uma vez. Passados 9 meses, o consumo privado que deveria ser o motor de iria acelerar a economia não cresceu. Apesar da reposição dos cortes da Função Pública e de todo o dinheiro que foi devolvido às famílias (que vivem dos rendimentos do Estado), o consumo não explodiu. O Investimento global, o privado mais o público, está negativo, e o PIB está a crescer a uma taxa de metade do previsto. Aliás, a metade da taxa que crescia o ano passado quando estava em vigor o modelo da austeridade, o tal que era ruim como as cobras.
Ou seja, o modelo económico dos socialistas que serviu para fazer o orçamento de 2016 estava errado. Por uma simples razão: é que não se pode entender a economia pela defesa de um grupo que traduza a base eleitoral de um partido. Favorecer apenas a Função Pública não chega para dinamizar a economia. O que o Governo deu a mais à FB tirou-o à economia no seu conjunto, através dos impostos indirectos (combustíves) que aumentou. E muito do que deu à FB acabou por o tirar através de aumentos de impostos directos como o IMI. Aumentar o rendimento disponível da FP para aumentar o investimento privado é uma estupidez. O Funcionário Público com mais rendimento não vai investir em Portugal, vai trocar de carro, e a vantagem do aumento desse consumo vai para a Alemanha ou vai fazer férias no Estrangeiro. O privado, aquele que não trabalha para o Estado, é que investe em Portugal, no seu pequeno negócio unipessoal. Os socialistas nunca perceberam isto, porque são todos Funcionários Públicos e a experiência mais relevante da vida deles é o dinheiro a cair-lhes dia 23 certinho na respectiva conta bancária. Um dia destes vou explicar porque a doutrina do Senhor Keynes já não pode ser aplicada em Portugal desde que estamos no Euro e desde que não temos fronteiras.

quarta-feira, julho 13, 2016

NUNCA PENSEI USAR UM TEXTO DE JOANA AMARAL DIAS

Parece uma história de encantar. Na europa racista dos fortes com os fracos e fracos com os fortes, uma equipa dos PIGS, dos porcos, dos dégueulasse, nojentos, das femme de ménage com bigode e dos pedreiros dos bidonville, ganhou o caneco. Cum caneco.
É o dia em que o velho continente não é pertença e propriedade do eixo franco-alemão, nem das patroas do 6º arrondissement, nem da Goldman Sachs. Parece uma história de encantar. Uma equipa com um seleccionador humilde, católico devoto e confesso, meio ensimesmado e cachaço tenso, fora do estrelato do dente branco e do cantinho dos special ones, empata, empata, empata. Mas não perde. Não brilha mas não cai. Aguenta firme, não é obra de arte, arquitectura de arrebites e modernices, mas está ali firme, de pedra e cal. Fernando Santos, o engenheiro da electricidade, engenheiro da energia, dizia-se, tinha um único trunfo, o grande sétimo selo Cristiano Ronaldo, atleta de profissão. Parece uma história de encantar. Ninguém queria acreditar. Quase ninguém acreditava. E esse campeonato começado no dia 10 de junho, no dia de Portugal, havia de terminar em França, país hospedeiro mas pouco hospitaleiro.
França-Portugal, final do euro 2016. Foi o dia em que o imigrante português em terra gaulesa, “o avec”, foi, finalmente, vingado. Tantos anos cuspido para as margens, a esfregar latrinas e a ser cinicamente louvado como “grande trabalhador” para, por fim, mostrar aos franceses que está ali por direito. Os franceses estavam a jogar no seu território mas nós também. Paris é o delta da diáspora portuguesa e o Stade de France, ali na Saint-Dennis dos nossos avós, foi construído com as mãos, o sangue, o suor e as lágrimas do trolha tuga. Jogámos em casa.
Uma história para contar. A equipa do comandante discreto e da estrela fulgurante entrou em campo depois de mais vexames. Sanção para aqui, má imprensa desportiva para acolá. Dez minutos e um médio francês, cujo nome nunca ficará para a história, pobre diabo, joga sujo, bem porco, contra CR7. Rei Ronaldo ainda insiste mas acaba por sair lesionado e em lágrimas. Sentado no relvado, enquanto chorava de dor e raiva, uma borboleta poisa-lhe na na pálpebra, como se fosse borboleta com borboleta. Mas não uma bonita, de encher o olho, como a Rainha Alexandra ou a Esmeralda. Uma vulgar traça, um patinho feio do mundo panapanás, como uma selecção degoulasse. A borboleta feiosa beijou o olho choroso do capitão. E o tempo foi bonito.
A equipa tomou-se de revoltas fidagais, gritou chega de humilhações e desdém, basta de rebaixar. Corações ao alto, peito feito, olho vivo e pé ligeiro. Afinal, não estavam decapitados, afinal erguia-se um gigante. Golias tremeu. E quando a morte súbita já espreitava sobre o ombro, Éder, o órfão dos arrabaldes de Coimbra, da Adémia terra de enguias e comboios, outro maldito desta vida e desta selecção, outro herói inesperado, dispara, marca, resolve, ganha, vence. Portugal festeja, finalmente festeja, finalmente alegre. Portugal ergue os seus luso-africanos, luso-brasileiros, os seus luso-franceses e o seu cigano português. Portugal pode ser essa mistura, sopa da pedra, rapa o tacho, desenrasca, safa e já está. Pátria amada, amor de mãe, frança 2016. A memória ficará tatuada. Santos da casa fazem milagres.